terça-feira, 28 de junho de 2016

Moradores da periferia transformam matagal em parque com pista radical, horta e academia


Moradores de um dos bairros mais pobres de São Paulo decidiram que não iriam se conformar com a falta de verde e o excesso de concreto da paisagem ao seu redor.

Com pás, enxadas e vassouras nas mãos, eles transformaram um matagal de 31 mil m² cheio de entulho em parque com pista de bicicross, horta e academia ao ar livre. E ainda não se deram por satisfeitos: agora, pretendem transformar uma área vizinha em um polo cultural - e tudo por conta própria.


A batalha pelo espaço de lazer começou em 2006, quando uma empreiteira derrubou sem autorização 30 árvores nativas do terreno localizado no Itaim Paulista, no extremo leste da metrópole. A intenção da construtora era transformar uma das poucas áreas verdes da região em um condomínio residencial.

Revoltados, os vizinhos fizeram um abaixo-assinado para pedir que a área virasse um parque - foram mais de 10 mil assinaturas. E conseguiram: a construtora foi multada e a prefeitura acatou a vontade popular.

Mas a história não acabou aí: os moradores não gostaram dos planos do município para o local. E antes mesmo da inauguração oficial do Parque Central do Itaim Paulista, em 2013, um grupo de praticantes de BMX Dirty (modalidade de bicicross com manobras em rampas de terra) ergueu uma radical pista profissional para a prática do esporte no terreno.

Toda a estrutura, com cerca de bambus e rampas de até 4 m de altura, foi feita com dinheiro do próprio bolso. E que fez o grupo pegar gosto pela transformação: desde então, construíram uma academia e iniciaram a implantação de horta e composteira (espaço para transformar lixo em adubo).
Trabalho em equipe

Os moradores contam que o maior desafio foi mostrar a relevância de ter uma área verde e, assim, ganhar a adesão da comunidade. Depois, dividir as tarefas e custos de forma justa, para quem ninguém ficasse sobrecarregado.

"Nós nascemos neste bairro, então nos conhecemos bem e temos carinho por ele. Isso facilitou muito e mostra que cada um pode fazer a diferença onde mora", disse o comerciante Everton Aranão, 28, que ajudou a fazer parte das mudanças no parque Central do Itaim Paulista.

Também foi preciso criar um sistema de zeladoria. Um exemplo é a pista de bicicross: sua manutenção semanal, feita com terra especial, é tarefa dos atletas que a utilizam.

Um cuidado que é reconhecido. A prefeitura, que segundo os moradores relutou em permitir e reconhecer a construção da pista, agora afirma que ela "tem padrão internacional e é muito utilizada pelos frequentadores".

A sequência de rampas atrai pessoas de todo o país e já foi palco até mesmo de campeonatos nacionais da categoria.
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