quinta-feira, 28 de abril de 2016

Há seis décadas, insisto em não descrer de nossa brava gente


Desde as vésperas do dia 17, penúltimo domingo, venho experimentando a desagradável sensação (afaste de mim este cálice!) de estar definitivamente dividido entre manter e não manter a esperança em nosso país. Mas não fui sempre assim, confesso. Há mais de 60 anos, insisto em não descrer de nossa gente, que constitui este generoso país.

Outro dia, no excelente programa “Quatro em Campo”, da CBN, o jornalista Paulo Massini, em franco e doído desabafo, se disse aliviado por não ter filhos. Combinados, ele e a mulher deixaram de lado o sonho: “Nessa hora”, afirmou Massini, “meu coração é invadido de uma paz inacreditável. Como deixar crianças num país como este? Gastaram R$ 45 milhões em uma ciclovia de quatro quilômetros. O mar derruba essa ciclovia, e a culpa é do mar? O Brasil é o país dos milhões. O que mais me deixou triste foi ver uma foto das pessoas mortas na areia e os demais jogando futevôlei. Estou dizendo que sinto um alívio e um pesar por todos vocês. Porque acabou para mim, acabou! Eu não vou deixar ninguém para viver num país como este. Vai melhorar coisa nenhuma”.

É evidente, leitor, que desabafos desse teor têm a forte contribuição, pelo menos em grande parte, de um partido – o PT, que, logo após o segundo mandato do ex-presidente Lula, traiu sua origem e, claramente, as expectativas de um país mais moderno, mais independente e socialmente mais justo. Até parece que a presidente Dilma veio para acabar de vez com todas as esperanças dos brasileiros. E só não conseguiu o intento porque, felizmente, seu governo acabou.

Que ninguém, como desculpa, imagine que cada deputado que votou pelo impeachment seja um beócio, que nada sabe a respeito do que envolve esse vigoroso recurso constitucional contra a presidente. Isso não está certo. Eles apenas são vítimas da péssima educação em nosso país (ah, “pátria educadora”, o quanto de perfídia e cinismo contém esse seu novo slogan!). Eles sabem (não nos iludamos quanto a isso!), mesmo por meio das mais disparatadas manifestações, o que decidiram. À exceção do vexame do deputado Bolsonaro, que resolveu homenagear um comprovado torturador, ou dos excessos verbais de alguns dos que se posicionaram contra a Carta Magna, o que aconteceu foi o que aconteceu em 1992 contra Fernando Collor de Melo.

Só com uma agenda positiva e de reformas na educação, na política (e sem perder a fé nela, como elemento transformador da sociedade), nas eleições, na economia, nos costumes etc. conseguiremos – refiro-me aos políticos e, claro, a nós! – retirar o país desse lamaçal ao qual foi jogado, cuja parcela maior de responsabilidade cabe, indiscutivelmente, ao partido que o governou por mais de 13 anos.

O PT precisa aceitar que fracassou quando permitiu que seu projeto de governo se transformasse em projeto de poder. Que faça o mea-culpa e busque ressurgir-se das cinzas, em suas origens. Cabe-lhe, agora, conscientizar-se de sua culpa e, em seguida, ajudar a construir um novo rumo, que está na cara de qualquer homem de bem.

Que o tom raivoso e anacrônico do discurso do Lula, que alega que Dilma será fuzilada “por um pelotão comandado pelo que há de mais repugnante no universo da política” (mas que serviu a Lula e Dilma por mais de 13 anos), dê, enfim, lugar ao bom senso.

Peça licença, Lula, e se retire. Colabore para que novos tempos surjam por aqui. Permita que os céticos voltem a acreditar no país. Ou alie-se a Jair Bolsonaro. Afinal, os extremos se chocam…

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