Reescrever ignorando espaços de tempo essenciais, como a Historia Antiga, incluindo a Renascença, por exemplo, acentua Villa, na qual se integram Leonardo Da Vinci e Miguel Ângelo. O impulso do MEC parece ser o de tornar o passado imprevisível.
Não poderá ter êxito tal iniciativa, seria um desastre cultural completo. Sobretudo porque implica num esforço negativo de implantar tal reforma cultural nos primeiros e segundos graus. Ainda bem que fracassará. Nas somente a iniciativa desqualifica os autores de uma proposição dessa ordem. E destaca nitidamente a sensibilidade e a capacidade dos que recorreram ao laboratório produtor de tal ideia.
Omitir a cultura da Grécia antiga é romper com a própria Filosofia que, no fundo, de uma forma ou de outra, está presente no pensamento humano. Romper com o Império Romano, além de agredir a história, representa uma ruptura com o próprio cristianismo, uma vez que ele teve origem com a tragédia da crucificação. Consequência da invasão de Roma de Tibério na Judeia, a qual produziu a existência de dois governadores nomeados pelo imperador: Pôncio Pilatos e Herodes Antipas. Pilatos era romano. Herodes era judeu, representando a parte da população que aderiu ao invasor. O episódio guarda em si alguma semelhança com o que sucedeu na França de 1940, quando surgiu o governo de Vichy. Mas esta é outra questão.
O fato é que a tentativa de apagar o passado, fonte permanente e eterna de se procurar entender o presente, é simplesmente imbecil. Como ignorar as obras de arte que povoam o trilhar dos séculos. Veneza não é só conhecida por seu carnaval, mas também como cenário de Otelo, de alguém chamado William Shakespeare. O mesmo pensamento se aplica a Verona, palco de Romeu e Julieta. Inúmeros exemplos culturais podem ser acrescentados no plano das artes, dos milhares de períodos históricos. Somente a partir de Jesus Cristo são 16 anos além de dois milênios. Que dizer da divisão do tempo que rege a humanidade entre antes e depois do calvário?
O episódio denunciado por Marco Antônio Villa é uma comprovação a mais da trajetória da incapacidade e mesmo – por que não dizer? – da burrice em sua essência maior. Pois a existência humana, em sua aventura, é uma viagem através dos séculos, tanto assim que em nossos deslocamentos procuramos sempre encontrar o passado que se eterniza cada vez mais. A cada ano, portanto, torna-se mais antigo e proporciona redescobertas.
Na era do relato, buscamos decifrar a figura inultrapassável de Jesus Cristo. Na era do registro, de acordo com McLuhan, o nazismo, que figura entre as maiores tragédias a que o universo já assistiu. O MEC parece desconhecer tudo isso, na tentativa de recriar uma contracultura. De não saber que do alto da história 40 séculos nos contemplam. Para os judeus, 57 séculos. Para nós cristãos, 20 séculos.
Mas – citando Noel Rosa – para que falar com quem não entende nada de coisa alguma? Villa salvou a cultura de um desastre? Esperemos que sim.
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