Surpreendentemente, no entanto, li que a cada sete minutos um professor é agredido lá no Reino Unido. Cataloguei casos de mestres mordidos, arranhados, chutados, socados, linchados pelos alunos e até assassinados. Na Europa, a cada ano, 1,5 milhão de professores enfrentam esta dura realidade. E ninguém resolve o problema. O Estado tão poderoso, que tanto investe em armas e segurança, não consegue impor a ordem nem nas salas de aula. É assim que se gosta da educação?
Nunca falta dinheiro para a educação, esta “criança mimada”. E assim pesquisadores ingleses gastaram milhões para descobrir se um pinguim olha para o céu quando passa algum avião. Na Suécia, cientistas investiram outros milhões para concluir que galinhas preferem seguir pessoas bonitas fisicamente. Nos EUA outra fortuna foi gasta para apurar a relação entre a música sertaneja e os índices de suicídio. Enquanto isso, 25% das crianças norte-americanas passam fome, e vivem ao largo dos benefícios da educação. Na Europa, são em média uma a cada sete crianças. É assim que se ama a educação?
Os recursos para a educação devem ser tratados com total seriedade e honestidade. E lá está a Controladoria Geral da União denunciando irregularidades em 73% dos municípios brasileiros. Mas segue firme pelo país afora a frequente compra de equipamentos caríssimos que quase nunca serão usados porque falta nas salas de aula a estrutura mais básica necessária. É assim que se cultua a educação?
Trombeteia-se que uma escola não forma apenas estudantes - forma cidadãos. Apregoa-se que quem abre uma escola fecha uma prisão. Paradoxalmente, no entanto, noções as mais básicas da vida real passam ao largo das salas de aula. Será mais fácil uma criança nelas aprender qual o nome do navio que conduziu José Bonifácio ao exílio do que receber uma mínima noção sobre, por exemplo, o funcionamento das leis. As consequências são terríveis: 67% das empresas brasileiras enfrentam dificuldades na contratação de trabalhadores qualificados. É assim que se homenageia a educação?
Berra-se, pelas esquinas afora, que aos estudantes deve se proporcionar a saúde necessária a todo e qualquer bom desempenho escolar. Para nossa surpresa, porém, 6,8 milhões de alunos brasileiros assistem aulas em escolas desprovidas de abastecimento de água, e 5,2 milhões não tem sequer água potável para beber. Há ainda outras 20 milhões de crianças que estudam em escolas desprovidas de esgoto - milhares morrem a cada ano por conta disso, segundo o UNICEF. É assim que se ama loucamente a educação?
Grita-se, aos quatro ventos, que crianças devem estudar em um ambiente de paz e serenidade, minimamente civilizado - de outra forma, gravemente comprometido estará o aprendizado. No entanto, lá estão pelos jornais as notícias de que traficantes ordenaram o fechamento de escolas em luto por alguma morte decorrente de algum tiroteio com as forças policiais. Isto acontece pelo país afora, em uma escala tal que sequer manchete de jornais é mais. É assim que se reverencia o sagrado ensino?
Cheguei a uma conclusão: o problema das crianças são os maiores que vivem às custas delas pelo planeta afora.
Pedro Valls Feu Rosa
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