Faz hoje um mês que a maior tragédia ambiental do Brasil consternou a todos e fez surgir, com maior seriedade, um debate sobre a mineração em nossas terras.
É hora de rememorar os acontecimentos, recontar a história dos tantos que sofreram as consequências e de computar o dano ocasionado à natureza, como faz esta edição de O TEMPO.
O momento é ainda mais oportuno para cobrar atitudes. Não se pode, de forma alguma, deixar esse tremendo prejuízo para depois.
Se as autoridades, pressionadas pela imprensa e pela opinião pública, começaram a cobrar a conta das empresas envolvidas, o momento é de organizar isso tudo e questionar como e quando isso sairá do papel e se transformará em indenizações capazes de recolocar a vida em curso nas bacias do rio Doce e do Carmo.
O susto, a revolta e a indignação não podem desaparecer com o passar dos dias. Devem ficar presentes na memória de todos. Cicatriz fruto da irresponsabilidade que se abateu sobre todos.
A Samarco, depois de 30 dias do acontecimento, resolveu se comunicar com a população. Demorou. Por meio dos anúncios veiculados, a mineradora diz que vai “fazer o que deve ser feito”. Esse é o compromisso de quem causou tanto prejuízo. Esse é o mínimo que se espera.
Mas uma pergunta deve ser repetida até a exaustão: quem vai fiscalizar?
Sabemos agora, depois de todo o sofrimento, que a mineradora, as proprietárias da empresa (Vale e BHP Billiton), o Ministério Público e as demais entidades do governo tinham noção dos riscos que representava a barragem de Fundão. Todos os indícios levavam à constatação de que algo de muito ruim estava prestes a acontecer. Lógico, ninguém queria que acontecesse. Mas, sim, sabiam que poderia ocorrer.
O caldo de lama entornou, e o que resta a todos, principalmente aqueles que fizeram vista grossa, é criar uma nova mentalidade, sobretudo nas empresas desse setor, tão importante para Minas, e no aparato governamental, demasiadamente permissível a atividade de tão grande risco.
Espera-se, enfim, que a lição pela dor tenha servido para alguma coisa. Vai levar um tempo. Não sabemos ainda se alguns anos ou décadas. Mas, por um lado, estamos diante de um momento único, que pode nos devolver um rio, um governo e uma sociedade, de fato.
O que tínhamos até o acidente, ou o desfecho de um enorme crime ambiental que vem de longa data, era um rio agonizando, um governo rendido e uma sociedade completamente apática. A conjugação desses três elementos criou a empresa que hoje é demonizada. Que essa empresa se reerga e levante consigo a autoestima dos mineiros, tão afetada pela tragédia.
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