O roteiro é claro. Três seriam os objetivos de um governo Temer devotados a novo ciclo de acumulação de capitais no Brasil. O primeiro seria manter o fluxo de pagamento das obrigações financeiras do poder público aos bancos, o que já consome praticamente 50% de tudo o que a União consegue arrecadar. Portanto, seria imprescindível lograr expressivos superávits primários. Para que isso seja alcançado, podemos aguardar um arrocho nas três áreas da seguridade social: Previdência (da patuleia, naturalmente), assistência social e saúde.
Um segundo objetivo seria revigorar a capacidade de investimentos do setor privado. Na impossibilidade de um “cavalo de pau” nos juros, seria autorizada a terceirização selvagem da mão de obra de forma a igualar a remuneração do trabalho a patamares asiáticos degradantes. As exigências de licenças ambientais, as demarcações de terras indígenas, a imposição de servidões florestais seriam descartadas para não mais prejudicar as locomotivas de nossas exportações: o agronegócio e a mineração.
Finalmente, de forma articulada com os dois primeiros objetivos, teríamos, sob a desculpa de estímulo à entrada de capitais, a internacionalização desmedida do setor de serviços de engenharia pesada e da área de energia.
Haverá mais desemprego, mais desalento e, provavelmente, mais violência. Assim, o Estado se tornará ainda mais, e antes de tudo, a gendarmaria da propriedade privada. Para os que podem ser proprietários, é claro!
Este terá sido o legado definitivo dos governos do PT: a radicalização do neoliberalismo que tanto combateu na fraseologia, mas que implementou na prática quando o primeiro governo Lula fez aprovar no Congresso Nacional, com todo o empenho, a retirada do sistema financeiro da órbita de fiscalização pelo Estado. O que importa, agora, é pensar: que forças poderiam se articular e fazer valer um projeto diferente do que aí esteve, está e estará?! Que seja politicamente mais democrático e independente do poder econômico; que possa incorporar nas instituições, respeitada a pluralidade cultural, os marginalizados de toda ordem; que proponha o desenvolvimento sustentável; que faça valer a justiça social por meio de reformas agrária, urbana, tributária e do aparelho de Estado. Por fim, que leve em conta a necessidade de efetivar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sem o que não haverá vida futura.
Confesso que tenho lá minhas críticas a Leon Trotski, mas gostaria de orientar minha vida daqui para a frente a contribuir com aquilo que ele registrou em seu testamento: “A vida é bela: que as gerações futuras a limpem de todo mal, de toda opressão, de toda violência e possam gozá-la plenamente”.
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