sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Pagando os excessos

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Que o Brasil estava quebrado, rumo à desintegração, era fácil de entender ao longo de 12 anos marcados por aumentos sistêmicos de custeio da máquina pública, muito acima do crescimento do Produto Interno Bruto.

Em qualquer época há quem ganha e quem perde.

Nos primeiros meses de 2015 todos os setores produtivos (menos a agricultura) sofreram, e continuam sofrendo, queda histórica de atividades, turbinada pelo denominado ajuste fiscal.

No comando das medidas que aumentam impostos e juros apenas se conseguiu diminuir a arrecadação da União, dos Estados e dos municípios ampliando absurdamente a dívida pública, das empresas e do cidadão. Nada do que estava nos anúncios iniciais vem se realizando, e as previsões do período de crise se dilatam a cada semana. Já se pensa em mais três ou quatro semestres. Quer dizer, a fórmula não deu certo. O conteúdo da panela não dá para ser servido.

Precisa recomeçar com novos ingredientes. Temos aí, assim, a recessão em nível estúpido.

Na condução disso tem um grupo de financistas emprestados pelos maiores bancos e chefiado por Joaquim Levy (Bradesco). Fecharam-se indústrias, lojas, vagas de trabalho em volume assombroso, os setores estruturantes da economia em agonia, criando-se uma camada glacial de desempregados. Em contrapartida, o sistema bancário nacional, especulativo, contabilizou o semestre mais rentável desde a época do Descobrimento.

A presidente, que no seu primeiro mandato abusou de medidas eleitoreiras e frívolas, tentou corrigir com outro excesso, em sentido contrário, de ortodoxia e apertos. Acreditou nos banqueiros. Mais, acreditou que a vara pode se dobrar indefinidamente sem quebrar.

Sabia-se (aqui escrevi centenas de vezes nos últimos dez anos) que a economia não aceita desaforos, que as contas econômicas precisam manter o norte da “sustentabilidade” e do equilíbrio. Sem ele, é a ruína. Amanhã, depois de amanhã, levará à ruína uma família, uma empresa, um país.

Doze anos de mágicas e pedaladas, represando rombos gerados por conta de desperdícios, corrupção e equívocos gigantescos. O comércio se expandiu com as importações, possibilitadas pela moeda artificialmente valorizada, que condenou a indústria nacional a encolher e zerar sua competitividade. Perder ainda possibilidade de renovação e de inovação.

Verbas bilionárias se vaporizaram no petrolão. O país não alcançou a autossuficiência energética de baixo custo. Investiu tudo que não podia na miragem de um petróleo que, ao contrário de aumentar de preço e chegar a US$ 200 por barril, despencou para um valor abaixo de US$ 40. A esbórnia do pré-sal arrebentou a Petrobras; a ressaca é dura, e, para manter as contas da estatal, continua-se importando grande volume de gasolina, mais barata que o petróleo que se extrai e se refina do pré-sal.

O ajuste nunca se deu atacando as ineficiências, tapando ralos e rachaduras do sistema. A galinha dos ovos de ouro, o setor produtivo, que mantém uma estrutura socioeconômica de pé, gerando empregos e arrecadação, foi a mais prejudicada.

A palavra para compreender a crise em que se afundou o governo Dilma: EXCESSO.

Excessos em todos os sentidos, nas previsões absurdamente deslumbradas, nas medidas perdulárias do primeiro mandato. Incapacidade de compreender o momento, de tomar medidas corretas. Depois outros excessos no ajuste econômico, uma overdose que está colocando o Brasil em agonia.

Os ministros escalados, se não forem incompetentes, são mal-intencionados, servem apenas aos bancos que os empregam.

No primeiro mandato a presidente abusou das “comadres da Alvorada”, Miriam Belchior (ex de Celso Daniel), Ideli Salvatti, Gleisi Hoffmann e Graça Foster. Esse grupo ditou a política que arruinou o sistema energético nacional, já debilitado pelo antecessor, Petrobras e Eletrobras estão quebradas, e as contas sendo pagas a caro preço em tarifas insuportáveis para a maioria da população e das empresas. Inventaram as comadres descontos mirabolantes nas tarifas de luz, confisco de hidrelétricas, escolhendo no menu de medidas mais desestruturadoras possíveis. Vários setores que dependem de energia elétrica foram levadas sumariamente a fechar as portas e milhares de vagas. Nenhuma medida compensatória foi proposta. Ainda a maioria dos empréstimos do BNDES financiou os larápios do petrolão e se perdeu na corrupção que deixou para trás um punhado de cinza.

Embora Dilma se encontre a enfrentar o pedido de impeachment que a classe média pede nas ruas das metrópoles, indignada com as roubalheiras, poderá ser atingida e atropelada apenas quando o desemprego e as dificuldades chegarem à mesa das classes menos abastadas. E já começou a chegar.

Acreditar que as medidas de Levy tenham capacidade de consertar a crise é pouco provável. Mas, tanto para Dilma como para quem possa sucedê-la, precisará manter claro que se aumenta arrecadação e o desenvolvimento não com torniquete e burocracia, mas preservando a capacidade de produção e de trabalho.

A forma de sair da desgraça em que precipitou está no plano de “conversão ambientalmente correta, do fóssil para o renovável”, ainda na limpeza do ar, das águas e do planeta Terra, do Brasil em especial. Exatamente o contrário do que representam pré-sal e escolhas que serviram de pretexto para o maior esquema de corrupção do planeta.

Uma enorme dificuldade também deriva da ocupação dos ministérios e das estatais por figuras sem expressão, à disposição de planos de poder partidários, sem compromisso com a nação.

O momento requer grandes lideranças, motivação patriótica, união e propostas de superação. Circunstâncias difíceis e complicadas tanto pelos atores no palco quanto pela visão voltada apenas ao poder, ao interesse de setores isolados.

A presidente vem perdendo credibilidade e, por consequência, autoridade para exercer o papel de mediadora da crise. Os excessos a fragilizaram, e corrigir-se está ficando cada dia mais árduo.

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