sábado, 27 de junho de 2015

Apreensão e apreendidos

Passamos por um ano que não começou e pelo jeito não vai terminar em dezembro. Não sabemos o que fazer nem exatamente o que será de nós. Claro, pelos prognósticos pós-eleições presidenciais, já se esperava para 2015 o início ou a confirmação de um ciclo de vacas magras, mas, de forma alguma, imaginava-se uma estagnação tão pavorosa.

A economia, logo no primeiro momento, e a política, neste estágio atual, marcado pelas consecutivas e espetaculares operações da Polícia Federal e da Justiça, estão sangrando o país com requintes de crueldade e trazendo à superfície angústias, em uma primeira impressão, irremediáveis para a sociedade, até porque, como diz a sabedoria popular, o remédio ministrado em doses erradas, em vez de curar, mata o paciente.

A máxima vale para as medidas acachapantes do plano comandado por Joaquim Levy e por eventuais excessos dos órgãos cuja atribuição é o combate à corrupção.

Por mais que sejamos irresponsavelmente otimistas e consigamos enxergar algum avanço no combate às fraudes e na consolidação da democracia, o momento atual nos remete mesmo a uma espécie de esquizofrenia coletiva.

Parece que lidamos a todo tempo com uma bomba-relógio prestes a ser detonada no próximo minuto.

Nessa confusão total, políticos se dividem em grupos igualmente apreensivos. Com a prisão dos maiores empreiteiros deste país, as estrelas do PT estão se acuando, calando-se diante do medo das próximas declarações. Ao mesmo tempo, não petistas, em uma mistura de êxtase, mas também de medo, não sabem até que ponto podem ir.

Na tarde de ontem, pela primeira vez, um tucano de plumagem mais nobre foi citado por um dos delatores da Lava Jato, fazendo jus ao nome desta nova etapa da operação. Se há alguém que sai ganhando com esse estado de coisas, isso ainda não é suficientemente claro. Afinal, segundo Moro, é a hora do “Erga Omnes”.


Os inúmeros pedidos de prisão e de mandados de busca e apreensão transformam a vida cotidiana em uma montanha-russa, seja para os alvos da PF ou para o simples cidadão. Mais do que trazer uma sensação de que a justiça, enfim, está sendo praticada, talvez pela forma pirotécnica como as coisas estão acontecendo, o país está sendo entregue ao piloto automático, que opera no modo “pavor”. A comandante deste enorme trem está isolada na cabine sem uma bússola para auxiliá-la, enquanto o restante da composição está se derretendo.

Porém, à tripulação, incluindo pequenos e grandes notáveis, cabe outro ditado que diz que canja de galinha e prudência nunca são demais. O Brasil precisa continuar existindo após o devido processo de condenação e prisão de seus bandidos.

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