Reivindico o meu direito de pensar
Queixas-te de teres aí falta de livros. Não interessa a
quantidade, mas sim a qualidade: a leitura é proveitosa se for metódica, se
apenas for variada torna-se um mero divertimento. Quem deseja chegar à meta que
se propôs deve seguir um só caminho, e não vaguear por vários: de outro modo
não viaja, deixa-se ir ao acaso.
(...) Confio, e muito, no pensamento dos grandes homens, mas reivindico o meu
direito próprio de pensar. De resto eles não nos legaram verdades acabadas, mas
sim sujeitas à investigação; e porventura teriam descoberto o essencial se não
tivessem investigado também temas supérfluos. Mas gastaram tempo imenso em
jogos de palavras, em discussões capciosas que aguçam inutilmente o engenho.
Construímos argumentos tortuosos, empregamos termos de significação ambígua,
finalmente desatamos toda a trama. Temos assim tanto tempo livre? Já sabemos
como encarar a vida e a morte? O que devemos procurar, com todas as forças, é o
modo de nos não deixarmos enganar pelas coisas, e não pelas palavras.
Para que analisar as diferenças entre palavras sinônimas, que não causam
dificuldade a ninguém a não ser em discussões de escola? As coisas enganam-nos:
aprendamos a observá-las. Tomamos por bens coisas que o não são, desejamos hoje
o contrário do que desejamos ontem, os nossos anseios contradizem-se;
contradizem-se as nossas decisões.
Lucius Annaeus Seneca (4 a.C. - 65)
Nenhum comentário:
Postar um comentário