Nesse caleidoscópio de sonhos, delírios e fugas da realidade, o V Congresso do PT vai sair em busca da legitimação de uma hegemonia que a sociedade recusa conceder-lhe
O novo presidente da Petrobras, convenientemente constrangido, pede “desculpas” à população ao apresentar, com 5 meses de atraso, um balanço auditado com 6 bi de buraco por corrupção e 21,6 bi de prejuízo por erros de gestão.
O ministro Joaquim Levy percorre agências de risco prometendo que vai colocar as contas em ordem e pedindo, por favor, para não rebaixar o grau de investimento do Brasil para não atrapalhar ainda mais o que atrapalhado já está. E tenta convencer os condestáveis do Congresso, Cunha e Renan, que sem ajuste o futuro será negro.
O panorama visto da ponte não é nenhum campo de girassóis como aqueles que Van Gogh pintava. O governo ainda rumina os 13% de popularidade, a inflação ameaça, o crescimento fica adiado para quando der, e bomba da Lava Jato não para de espirrar lama.
Isso não impede que o senhor Roarke, com seu prestimoso auxiliar, o simpático anãozinho Tatoo, continuem alimentando a sua particular ilha da fantasia, onde qualquer desejo pode ser realizado.
O senhor Roarke prepara agora para junho, em Salvador da Bahia, o V Congresso do Partido dos Trabalhadores. (Usamos algarismos romanos para dar a devida pátina de respeitabilidade ao evento. Trata-se, nada mais e nada menos, de decidir o futuro do Brasil, e en passant, o da Humanidade. Não é coisa pouca).
Sabe-se Deus de que recantos do Brasil surgirá esse exército de sonhadores, envergando seus estandartes vermelhos, com a missão de construir “um partido para tempos de guerra”. O que os guerreiros pretendem decidir é qual tipo de socialismo estão reservando para guiar nosso futuro rumo ao paraíso na Terra.
Eles vão decidir isso entre 11 e 13 de junho, mas nós, os burguesotes comuns, já podemos ir tomando conhecimento e consultar o menu que nos preparam. Está aqui, é só clicar em cima: as diversas tendências internas do PT exibem as teses que apresentarão no V Congresso.
Ao contrário do Partido Social Democrático Alemão, que renunciou ao marxismo e à luta de classes no longínquo ano de 1959, no Congresso de Bad Godsberg (vocês viram a tragédia que foi para a Alemanha essa infausta decisão, não é?), o PT ainda tem uma vasta coleção de fantasmas para mobilizar as suas tropas.
Com mais ou menos adereços de mão, ressuscitando o linguajar das assembleias estudantis dos anos 60 (“correlação de forças”, “flanco histórico” , “arco de apoios” e outras relíquias retóricas),as diversas tendências do PT caminham juntas na contramão da História, cada uma percorrendo sua via particular de acesso ao luminoso futuro.
Para algumas, como a “Virar à Esquerda-Reatar com o Socialismo”, é preciso meter o pé na porta, demitir ministros “capitalistas”, como Joaquim Levy, Gilberto Kassab, Armando Monteiro e Kátia Abreu e estatizar a rede Globo e, claro, dar um jeito nessa direita “fascista”. (É bom ressaltar; tudo o que não sejam eles, é “fascista”).
Para outras, como “O Partido que Muda o Brasil”, para quem o PT perdeu “o frescor da juventude”, ele precisa “reinventar-se”.
Nesse caleidoscópio de sonhos regressivos, delírios e fugas da realidade, o V Congresso do PT vai sair em busca da legitimação de uma hegemonia que a sociedade recusa conceder-lhe.
Pior para a sociedade, dirão eles.
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