sexta-feira, 24 de abril de 2015

Conto do vigário: culpa do ebola, da dengue, e eu não sabia nada do Petrolão


Voltou a moda a satanização de doenças e bichinhos. Conheço pelo menos dez pessoas que contraíram dengue, nos últimos dois meses, em São Paulo. A culpa é do mosquito da dengue, o novo satã.

A culpa não é obviamente do mosquito: é dos governos cuja infraestrutura e saneamento deram condições a que o mosquito se proliferasse.
Esse mesmo filme era “passado” nos cinemas midiáticos da Inglaterra do começo do século 19. Vou colocar alguns números: na Inglaterra daquela época, no início da Revolução Industrial, trabalhava-se16 horas por dia. A média de habitação era de 26 pessoas por casa. Em 1821 um trabalhador lograva 16 shillings por semana, dez anos depois eram apenas 6 shillings. A esperança de vida era inferior a 40 anos.
As condições de saúde e infraestrutura eram abjetas. Veio a tuberculose em massa. O Times londrino satanizava em suas manchetes o Bacilo de Koch: ele era o monstro a gerar tudo aquilo. O Timeslondrino tirava a culpa da falta de condições sociais dadas aos migrantes do campo e metia a culpa no pobre bacilo.
O que estão fazendo com o mosquito da Dengue é o mesmo. Ele é o culpado e ponto final: nada de discutir a torpe estrutura sanitária das grandes cidades…


Na África as coisas não tem sido diferentes. A culpa pelo miserê generalizado foi deslocada para o Ebola.
Governantes, ali, mantem-se no poder alimentando o velho babalaô místico-mágico africano. Tio Freud já havia alertado para isso em seu Totem e Tabu: o barato que o feiticeiro dá a sua clientela não é diferente do folguedo infantil. Crianças inventam jogos que simulam o mundão, e seus personagens, para terem, no folguedo, o protagonismo, o controle da situação. Bruxos simulam o mesmo em seus encantos: dão de barato a ideia de que uma macumbinha nos dará o poder de protagonismo sobre aquilo que nos parece incontrolável: e isso Freud chama de “totalitarismo do pensamento mágico”.
O ebola sobrevive na África porque interessa manter o povão engessado nesse psiquismo macumbeiro. No século 16 Descartes já havia destruído a ideia de que objetos têm alma ( anima mundi). De nada adiantou. O babalaô da varinha de condão ainda grassa solto.
Um aluno me informa que uma vidente sua vizinha já está benzendo contra a dengue. Cuma?



Vamos colocar em perspectiva: o cérebro humano contém aproximadamente dez bilhões de neurônios, cada um fazendo milhares de conexões. Cada neurônio age como o sistema binário de um computador, ligando e desligando. E dessa forma nossos pensamentos, emoções e decisões são transmitidos à vasta rede que somos nós. Neurônios são ligados por aqueles rabinhos, os axônios, que não se tocam. Os sinais passam de axônio para neurônio numa vala de sinapses, no espaço de um milésimo de segundo. Esse impulso tem carga elétrica de 120 milivolts. Se há telepatia, como passar uma informação à outra sem que haja esse complexo de toques, voltagens, axônios?
Como benzer contra o Ebola, Dengue ou o diabo?

O cérebro produz ondas, medidas em ciclos por segundo, ou hertz (Hz). Cérebro relaxado ou em descanso produz um ritmo alfa, entre 8 e 14 hertz. Ritmos beta, que predominam durante o trabalho ou o caminhar, por exemplo, se dão entre 13 e 30 hertz. Durante o sono, produzimos ondas delta, que oscilam entre 1 e 4 hertz. Os ritmos chamados theta, produzidos no transe ou sono profundo, estão entre 4 e 7 hertz. Mestres zen e iogues dizem que podem mudar voluntariamente as ondas de seus cérebros e se curarem.
Século 21 e ainda caímos no conto da benzedeira e da satanização dos bichinhos.
Da mesma forma que caímos no conto do vigário de que 6 bilhões foram desviados da Petrobas sem que Dilma e Lula soubessem de nada…
Da mesma forma que a Igreja jamais soube da pedofilia que corria solta…
E quem chegar por ultimo nessas respostas, é mulher do padre…

Nenhum comentário:

Postar um comentário