Nada a estranhar. Dilma, por conta de suas decisões, cavou com as próprias mãos o buraco em que meteu seu governo. Em primeiro lugar, dando curso à contabilidade criativa de Arno Augustin, que demoliu a credibilidade fiscal do país. Afastou investidores de ponta e nunca conseguiu reverter a apatia empresarial. Abandonou o modelo de diálogo e de construção de consenso que o ex-presidente Lula utilizava com a sociedade e o mundo político. Nas eleições, apelou para um discurso duro, que colocou mais amargor na conjuntura nacional. Para piorar, o petrolão alvejou seriamente o Executivo e seus aliados. E tudo isso pode piorar muito ainda.
Já eleito, o novo governo jamais buscou o diálogo de forma serena e sincera, como o momento político no país exigia. Ao contrário: agia e age como se o Executivo estivesse acima dos demais Poderes e da sociedade. Além da postura arrogante e isolacionista, por força de decisões alopradas na coordenação política, tomou uma saraivada de derrotas no Congresso Nacional. Enfim, as manifestações de 15 de março são o ápice de um processo grave de deterioração política iniciado ainda em 2011 e impulsionado por erros políticos elementares.
Consta que, recentemente, Lula e Dilma tiverem um diálogo muito duro. Lula teria criticado veementemente os erros de condução política de sua sucessora. Já Dilma teria reclamado dos constantes vazamentos de críticas ao seu governo por parte de aliados do ex-presidente. As reclamações são antigas e recorrentes.
O resultado da discussão entre Lula e Dilma seria a ampliação da coordenação política, com a inclusão de ministros do PCdoB, do PSD e do PMDB. Não seria suficiente, já que o cerne da questão é institucional, pois, em primeiro lugar, o governo deveria reconhecer que existe um presidencialismo de coalizão que implica o partilhamento de responsabilidades. Entretanto, aliados são tratados com desprezo, ainda que alguns deles mereçam mais do que simples desprezo.
Com relação ao PMDB, a questão é mais do que partidária, já que o vice-presidente do país é do partido, assim como os presidentes da Câmara e do Senado. Por inteligência, caberia buscar o diálogo permanente e o partilhamento de decisões com as legendas da base. Caberia também revitalizar o conselho político com os presidentes e os líderes da base aliada. Porém, apesar de essas recomendações terem sido ventiladas após as manifestações de junho de 2013, nada foi feito.
A presidente Dilma Rousseff continuou deixando prevalecer seu desprezo pelo papel do Congresso e de seus aliados, pela pequena política e pela arte de ouvir e de promover o diálogo. Sem o fortalecimento do diálogo institucional com os partidos e o Congresso, tudo será como antes, e o governo vai continuar aos tropeções.
A conta dos erros está subindo, e o capital político do governo, minguando. Quem sabe as manifestações de domingo façam o governo acordar de sua viagem lisérgica.
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