A presidente Dilma Rousseff (PT) entrou numa espiral de desgaste que parece não ter fim. Para qualquer lado há desgaste. E o pior, apesar de o pano de fundo ser, sim, uma crise econômica internacional, o maior desafio da governabilidade do país é o isolamento total do Planalto. A opção dos últimos anos de abraçar ao mesmo tempo Deus e o diabo para se manter no poder cobra agora o seu preço. Dilma é pressionada pela base, pela oposição, pelos movimentos sociais, pelos empresários, pelos banqueiros, pelos estudantes e até pelo próprio PT. Se anda para a direita, para a frente, para trás ou para a esquerda, desagrada a alguém e se vê com a faca no pescoço. E, para quem está com popularidade na casa dos 10%, qualquer ruído de insatisfação pode se transformar num catalisador de aprofundamento da crise de representatividade pela qual passa o país.
Esta semana, por exemplo, dois projetos em tramitação no Congresso mostraram o tamanho da contradição e da cilada política na qual o governo Dilma se meteu. O pacote de ajuste fiscal apontado como a salvação ou única alternativa para as finanças da administração federal, neste momento, só agrada a agências internacionais, comentaristas econômicos e uma pequena parcela do empresariado. E não poderia ser diferente. Aumentar tributos, cortar benefícios, suspender isenções não são nem nunca serão medidas populares, ainda mais quando são tomadas por um partido autodenominado dos trabalhadores e logo após um pleito eleitoral no qual se prometia (ou se esperava) um governo mais voltado para o social.
E cobrar da oposição coerência chega a ser ridículo. Mesmo sendo em sua maioria tacanha, conservadora e raivosa, ela está no seu papel de criticar quem prometeu uma coisa e está entregando outra.
O problema de Dilma são seus aliados e sua própria indefinição de como governar. Enquanto ela e a equipe econômica maquinavam como protelar a regulamentação da entrada em vigor de um novo indexador para as dívidas do Estado com a União, a Câmara aprovava, com ampla maioria, um projeto obrigando o governo federal a aplicar uma nova taxa de juros justamente sobre essas dívidas dentro de 30 dias.
O ex-ministro e ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, um dos fundadores do PT e defensor da renegociação da dívida dos governadores, definiu bem o atual momento. Segundo Tarso, essas ações do Planalto, rasgando promessas feitas anteriormente em nome da viabilidade econômica, conseguem em uma só tacada desagradar a todos e ainda fortalecer falsos aliados.
“O PT ficou inerte total, e o PMDB, ‘aliado’, já com projeto próprio, é claro, ‘esnucou’ o governo na questão da dívida dos Estados. Resultado: em face dessa inércia, aliado ‘mui amigo’ desgasta governo, que não reestrutura dívida, e partido da presidenta que emudeceu”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário