A política brasileira, na Era PT, ganhou novos cenários: tribunais, camburões, carceragem da Polícia Federal, Papuda. Nenhum governista dorme hoje tranquilo
O PT reage à hipótese de impeachment, em curso, dentro e fora do Congresso, com argumentos de pretenso fundo moral, os mesmos que desprezou quando na oposição. O partido, que teve protagonismo no impeachment de Collor, tentou reeditá-lo, sem êxito – e sem fundamento -, no início do segundo mandato de FHC.
Hoje, prova do próprio veneno.
No caso Collor, não teve o monopólio da causa, bem-sucedida porque fundamentada e com apoio na sociedade. No caso de Fernando Henrique – o inacreditável “Fora, FHC!”, de 1999 -, pretendeu impugná-lo com base em acusações ideológicas. Não havia um só fato concreto – e não encontrou ressonância.
Hoje, o partido, que protagoniza o maior escândalo financeiro de que se tem notícia, o Petrolão, alega que o impeachment não passa de manobra golpista. Não é: o instituto está na Constituição, que prevê seu rito e circunstância; acioná-lo, portanto, é ato legítimo, que não fere as regras do jogo.
Se não houver consistência, a parte questionada tem meios para reverter a situação e dela até sair fortalecida. Há dias, o senador Lindbergh Faria (PT-RJ) chamou a atenção, em tom perplexo, para o fato de que, tendo o governo menos de dois meses de empossado, não pode ser submetido a tal cobrança.
Ora, o “Fora, FHC!” teve início aos vinte e cinco dias do mandato do presidente reeleito. Tarso Genro, cabeça coroada do partido, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, no dia 25 de janeiro de 1999, propôs não o impeachment, mas a deposição pura e simples do presidente e novas eleições.
O uso ilegal da máquina administrativa – como no caso dos Correios em Minas Gerais, que não distribuiu o material de campanha da oposição, postado e pago, e usou gratuitamente os estafetas da empresa como garotos-propaganda do PT – é suficiente para impugnar uma eleição.
Reconhecia não haver tal demanda na sociedade – que, no entanto, dizia ele, precisava “superar o estupor e a letargia e desencadear um amplo processo de articulação” -, nem os meios legais, o que o impelia a conclamar o Congresso a que votasse emenda à Constituição para depor o presidente recém-reeleito. Nem ousava propor o impeachment, por sabê-lo plenamente descabido. Aquilo, sim, seria golpe.
Apenas um argumento de então, com relação a prazos, aplica-se ao que hoje ocorre. A reeleição impõe ao novo mandato a responsabilidade pelo anterior, já que se trata de continuidade. Nesse caso, Dilma não está sendo cobrada pelos dois meses atuais, mas também pelos quatro anos anteriores.
A rigor, não apenas: sendo herdeira do governo Lula, responde não por quatro, mas por 12 anos e dois meses de gestão – período em que vigeu o Petrolão -, cujo teor ético faz com que seu governo ocupe hoje mais as páginas policiais que as de política.
A política brasileira, na Era PT, ganhou novos cenários: tribunais, camburões, carceragem da Polícia Federal, Papuda. O Congresso tornou-se caixa de ressonância daqueles ambientes. É o que lá acontece que hoje move as peças do tabuleiro de xadrez (sem trocadilho) da política. A nomeação de ministros passa pelo exame das chances de que não venha a ser imputado criminalmente. Nenhum governista dorme hoje tranquilo.
Enquanto o “Fora FHC” alegava, para sustentar a deposição do presidente, um suposto “estado de ingovernabilidade do país” – e o acusava de transferir “a responsabilidade constitucional de governar” para “os gestores dos organismos financeiros das grandes potências e para os especuladores internacionais” – Dilma vê-se diante de questões bem mais concretas e palpáveis.
Leia mais o artigo de Ruy Fabiano
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