quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Se Marta contar o que sabe, Brasil vira Indonésia


Várias metáforas dilatadas permeiam o jornalismo na questão das fontes. Há quem diga que boa notícia não nasce no convento. Para outros, boa notícia é como flor de lótus: é linda, mas para ser colhida há que se encharcar na lama do pântano, onde ele vivifica. Outros dirão que boa notícia só se colhe usando escafandro. Este blog prefere a metáfora do âmbar-gris. Trata-se de uma concreção, uma pedra, a habitar o intestino dos cachalotes. Estes, quando comem lulas gigantes, não lhes conseguem digerir o bico. E este, daí, vira um tumor, instalado no aparelho excretor do bicho grande.

Baleeiros se matam para ver quem atinge primeiro os países baixos do cachalote: afinal é lá que está o âmbar gris. Uai: para que lutar para se atingir uma pedra que é um tumor brotado de uma lula, e que está “dans le cu” de um cachalote? Porque o âmbar gris é a base dos perfumes mais caros do planeta.

Como deus é irônico, não? A base de confecção de nossas fragrâncias mais sedutoras é um câncer que nasce naquele lugar de um bicho que vive de devorar lulas gigantes.

Gostou do tema? Em Moby Dick, reportagem que Herman Melville levou 14 anos apurando (e travestiu de romance) há todo um capítulo sobre o âmbar gris. Pois bem: Marta Suplicy virou o âmbar gris da imprensa.

De ontem para agora conversei com quatro grandes repórteres: todos aviam sido pautados para colarem na Marta, porque dela pode vir a grande bomba de neutrons a matar apenas os petistas, mas deixar em pé a estrutura do partido.

Esse é um raro axioma seguido pelos repórteres: dê um grude no cidadão machucado que ele fará bem para a cidadania. Está disposto, pelas chagas que sofreu, a melhorar o país: nem que isso o faça explodir todas as pontes políticas pavimentadas ao longo de sua vida.

Luiz da Costa Pinto, então em Veja, grudou no Pedro Collor e este lhe ajudou a derrubar o irmão presidente. Xico Sá, então na Folha, grudou no PC Farias e ganhou um Esso. Hoje meio mundo gruda nos advogados de Youssef e Costa, para ver se tiram uma casquinha.

Assim que meu velho amigo Romeu Tuma Junior deixou a secretaria de Justiça do ex-presidente Lula, passamos a conversar. Nosso livro ficou 20 semanas seguidas em primeiro lugar na lista dos mais vendidos.

Pois bem: até agora ninguém sabe em que grau Marta Suplicy vai falar. Mas o reportariado sabe que, se ela contar tudo o que sabe, a República fica de quatro e Dilma vai acordar, no outro dia, num outro país…

Marta, quem diria, virou o âmbar gris da oposição. Seu artigo na Folha foi apenas um tiro de aviso. Se ela resolver não ser política ao extremo, e não negociar o seu silêncio sobre os trambiques e sinecuras que viu, um novo pelotão de fuzilamento vai chocar a brasilidade. Os repórteres sabem disso: e esta semana só pensam em Marta enquanto respiram…

Claudio Tognolli

Nenhum comentário:

Postar um comentário