sexta-feira, 16 de janeiro de 2015
O gargalo permanece o mesmo
Cada vez mais as elites conservadoras acionam a velha cortina-de-fumaça para justificar sua inação e seus privilégios diante das agruras de quantos enfrentam a pobreza. Sustentam estar fazendo o máximo possível ao defender como sua única obrigação promover o que chamam de igualdade de oportunidades para todas as crianças e jovens. Nem isso é verdade, como demonstram as estatísticas do próprio governo, porque salta aos olhos não bastar, para vencer na vida, a frequência a escolas que fornecem merenda e providenciam uniformes de graça. Mesmo a quota para minorias, nas universidades, constitui enganação.
Os poderosos lavam as mãos a partir dessa premissa, visando manter como estão as relações econômicas, sociais e políticas da sociedade desigual. Eximem-se da responsabilidade como se fossem as mesmas as preliminares do sucesso. Esquecem-se, ou não se lembram, de ser ilusória a livre concorrência entre quantidades desiguais. Só como exceção um menino nascido na favela ou na periferia, muitas vezes sem saber quem é o pai, mesmo frequentando a escola, jamais terá as mesmas condições de competir com um pimpolho bem nascido e bem criado.
Não é por aí, assim, que se chegará à igualdade e ao aprimoramento das sociedades e das nações. O papel do Estado não pode resumir-se a prestar educação a todos, apesar de ser imprescindível essa primeira etapa. Torna-se necessário exigir as outras obrigações do poder público, desde o aprimoramento dos direitos sociais do trabalhador, que governos recentes vem suprimindo ao invés de ampliar, até a gradativa redução de privilégios das elites. Parece impossível nivelar num único denominador a capacidade de cada ser humano, mas reduzir as diferenças materiais entre todos constitui meta fundamental.
O preâmbulo se faz a propósito do início do segundo mandato da presidente Dilma. Inexiste um programa capaz de objetivar a igualdade, mesmo como objetivo longínquo. Não será através do Bolsa Família e outros programas assistencialistas que se chegará a lugar algum. Em especial com a supressão de direitos trabalhistas, como acaba de acontecer. De nada adiantarão os tais “ajustes” preparados pela nova equipe econômica, com ênfase para o aumento de impostos. As elites continuarão onde sempre estiveram, ou seja, muito bem, enquanto a ilusão da mesma escola para todos permanecerá favorecendo os bem nascidos, até muito mais do que os bem dotados.
Em suma, falta ao país um governo decidido a reduzir as diferenças sociais, apesar da intensa propaganda em sentido contrário. O gargalo permanece o mesmo.
Carlos Chagas
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