domingo, 4 de janeiro de 2015

A presidente, os novos ministros e o samba

Seu Presidente,/ Sua Excelência mostrou que é de fato/Agora tudo vai ficar barato/Agora o pobre já pode comer/Seu Presidente,Pois era isso que o povo queria/ O Ministério da Economia/ Parece que vai resolver/ Seu Presidente//Graças a Deus não vou comer mais gato/Carne de vaca no açougue é mato/Com meu amor eu já posso viver.
(Do samba Ministério da Economia, de Geraldo Pereira e Arnaldo Passos)

Basta trocar o tratamento inicial de Senhor para Senhora Presidente e fazer algumas pequenas adaptações de linguagem para evitar os chatos de plantão no tempo do “politicamente correto”, que atravessamos, e está tudo OK. A exemplo do que rolou em Brasília na última quinta-feira, primeiro dia de 2015.

Temos até, na letra e melodia do velho e bom samba “Ministério da Economia”, sucesso popular absoluto no Brasil de 1951 (pode parecer distante, mas é quase ontem para os registros históricos), o tema musical da festa da posse para o segundo mandato da petista Dilma Rousseff. Acompanhada do coro de calouros e veteranos ministros, de múltiplas e desafinadas vozes, que ela escolheu na largada de seu segundo mandato no ano regido pelo guerreiro Oxóssi, a entidade sincrética de São Jorge nos cultos afro-brasileiros.

A garimpagem atenta e certeira, retirada do fundo do baú da MPB, da música interpretada à perfeição pelo saudoso sambista Geraldo Pereira, deve ser creditada ao jornalista baiano Claudio Leal. De São Paulo, ele postou no site blog Bahia em Pauta, o vídeo do Youtube, acompanhado da letra e informações básicas sobre a composição genial.

No título, o jornalista cravou com a inteligência e refinada perspicácia de sempre: “Seu Presidente/ Graças a Deus não vou comer mais gato”. Um samba de Geraldo Pereira para sonhar com as promessas dos discursos de posse em todo o Brasil”.

Na mosca!!!

Vejam, por exemplo, aquela foto tradicional em dia de posse, que todos os jornais fazem e quase nenhum publica na edição do dia seguinte. A chamada “foto de Arquivo” no jargão das redações, para ajudar em futuras comparações à medida que os governos vão passando e vários dos sorridentes ou circunspectos auxiliares do primeiro escalão vão se desgastando política ou tecnicamente, perdendo força e visibilidade.

No caso em tela, um amontoado de 39 figuras díspares, boa parte surge e desaparece como miragens no deserto, sem que a maioria dos brasileiros saiba de fato quem são, ou o que fazem. A não ser quando os malfeitos e escândalos explodem e se multiplicam com suas sequelas e contaminações inevitáveis.

Alguns acabam descartados. Sem sequer um “muito obrigado” do poderoso da vez. Em outros casos, simplesmente, são deixados na margem da estreita e selvagem estrada do poder, sem verbas, sem atenção, abandonados para morrer à mingua.

Neste começo do segundo governo Dilma, a “foto de Arquivo” foi publicada em alguns diários impressos, como a Tribuna da Bahia, sites e blogs. A imagem que tenho é a publicada na edição de ontem (2) do jornal espanhol El Pais (Edição do Brasil, que sempre leio junto com a TB).

Nela, uma figura se destaca no meio do bolo completo de novos e antigos auxiliares da presidente: O Ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Ele assume de fato o comando Economia na segunda-feira, 5, em cerimônia no Banco Central que promete dar o que falar. Atualmente é ele o nome do samba.

Vitor Hugo Soares

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