quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O convento, a madre superiora e as freirinhas

Dos 39 ministros que formam a atual equipe do governo Dilma, com uma parte prestes a ser substituída, quem será capaz de citar todos, com os respectivos ministérios? E quanto aos novos, dos já anunciados para assumir no primeiro dia de janeiro?

Fenômeno invulgar acontece na administração federal: tanto pelo número inflacionado de ministros que continuam ou que vão embora, é possível que nem a presidente da República consiga recitá-los de bate-pronto. Do total dos ainda titulares, quantos só conheceram o gabinete da chefe do governo no dia da posse ou, bissextamente, passaram pelos corredores do terceiro andar do palácio do Planalto?

Houve tempo, quando a equipe se limitava entre dez e doze ministros, que todos despachavam quinzenalmente com o presidente. No longínquo período em que eram no máximo sete ou oito, toda semana marcavam presença, sendo levados a expor planos e programas dos quais eram cobrados em salutar rotina. Hoje, ficou impossível, acrescendo o fato de existirem ministros de primeira e de segunda classe. Uns poucos, que pela importância das decisões tomadas ou a tomar, pessoalmente ou pelo telefone, prestam contas quase diárias. Os palacianos, em especial, com gabinete a poucos metros da presidente. Outros, aliás, a maioria, indicados pelos partidos e que antes de nomeados eram simples desconhecidos da presidente. Alguns, até, que Dilma nem quer ver.

Vai continuar assim, no segundo mandato. Quer dizer, fora algumas exceções, ser ministro vale muito pouco. O parcelamento das atividades de cada um esvaziou a importância do conjunto, vale repetir, fora as exceções de sempre. Some-se ao precário conhecimento da maioria dos velhos e dos novos ministros a respeito de suas funções e se terá a receita de um grupo insosso, amorfo e inodoro. Funciona mesmo um governo dentro do governo, com a presidente presidindo cada vez mais isolada. Junte-se seu temperamento irascível, severo e até ríspido, pouco afeto a atenções e generalidades e a conclusão será pela transformação do palácio do Planalto num grande convento onde a Madre Superiora intimida as freirinhas e faz tremer as noviças espalhadas pela Esplanada dos Ministérios.

Deu certo no primeiro período? Dará certo no segundo? Há dúvidas. Sem poder supervisionar 39 atividades e mais outro tanto na administração secundária, é natural que Dilma desconheça aspectos fundamentais do seu próprio governo e da vida nacional.

Carlos Chagas

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