segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A mudança política terá de esperar


O medo dos mais pobres de perder o que foi conseguido prevaleceu sobre a incógnita
A maioria dos brasileiros decidiu depositar sua confiança no Partido dos Trabalhadores (PT) ao reeleger sua candidata, Dilma Rousseff, para outros quatro anos como presidenta da República.

O medo dos mais pobres de perder o que foi conseguido nos 12 anos de Governo petista prevaleceu sobre a incógnita de apostar na mudança. Isso, apesar de Rousseff ter acabado seus quatro anos de presidência com índices econômicos piores dos que os que tinha recebido em 2010 de seu antecessor, o ex-presidente Lula.

Os números das eleições apresentam, na verdade, um país profundamente dividido, o que representará um aumento da dificuldade para governar nos próximos anos. Com seus 50 milhões de votos —apenas três milhões a menos do que a vencedora Rousseff—, Aécio Neves tinha hasteado a bandeira da mudança apoiado pela ambientalista Marina Silva e se transforma agora em forte líder da oposição, algo que não existia desde que Lula chegou ao poder.

A reeleita Rousseff terá agora de acertar as contas com metade do país, a mais próspera e rica que, mesmo perdedora, dificilmente desistirá de continuar lutando por mudança. Sua estratégia deverá convencê-los de que ela vai ser a presidenta de todos os brasileiros e não só da metade vitoriosa. Precisará mudar a estratégia do medo usada nas eleições com os mais pobres, que se viram ameaçados de perder o bem-estar social conseguido nesses 12 anos de governo do PT e em hastear também a outra bandeira, a de uma mudança pedida por 70% dos cidadãos. 
Isso pressupõe convencer os que votaram nela de que as vantagens de uma mudança profunda de seu Governo e de seu modelo econômico em crise será benéfico não só para os mais prósperos, mas também para essa nova classe média que, saída da pobreza, é a primeira a desejar sentar-se também à mesa dos que (no calor da disputa eleitoral) foram batizados negativamente de elite social, inimiga dos pobres. Hoje, na verdade, ninguém mais se conforma em ser pobre no Brasil.

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