As plantas e os porcos
Planta viçosa nunca se viu. Imensa ramaria, folhas
aveludadas e coloridas, imensas flores perfumadas. Maciços delas tomavam os
campos. Era uma festa cada floração e uma alegria a cada manhã. Até os porcos
chegarem.
Focinhavam em
tudo. Se refestelavam sobre as moitas macias. As belas flores
eram pasto para uma fome incomensurável. Os dias perderam a beleza. E o que era
perfume pelo ar passou a ser impregnado fedor de bosta, de sujeira. Os campos
estavam sendo arrasados pelas patas insanas e bocas famintas de destruição.
Se era preciso fazer alguma coisa, foram as próprias plantas
que decidiram agir. Ninguém mais se manifestou contra a porcaria que se
implantou naquela terra. Das moitas coloridas, restaram toquinhos. E deles, com
esforço, as plantas passaram a lançar espinhos. Aos poucos cada uma foi se
recuperando.
Espinhentas, se tornaram um tormento para os porcos, que já
não faziam delas pasto e repasto. Puderam começar a crescer e a reflorir,
exalando pelos caules um cheiro ácido só sentido pelos porcos. Nenhum deles se
arriscava a enfrentar plantas tão fedidas e espinhentas.
Foi só quando voltou a Primavera que novamente surgiram os
campos renovados, esplendorosos. A voracidade dos animais foi para outros
prados, os porcos nunca mais voltaram para comer e espezinhar a felicidade, que
refloriu perfumada de flores.
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