Nos anos trinta, século passado, o Oriente Médio era um deserto com reduzidas perspectivas econômicas. Os ingleses dominavam a região e não gostavam que estrangeiros de outras nacionalidades entrassem na área. Mas a Armada Real, que deixara de utilizar carvão como combustível e aderiu ao petróleo, teria que ser atendida. Em maio de 1932 a empresa Bahrain Company, que era canadense com origem norte-americana, descobriu petróleo na região. E abriu os olhos das empresas dos Estados Unidos que relutavam em investir em prospecção no deserto. Americanos logo depois descobriram petróleo na Arábia Saudita e assinaram um tratado de proteção recíproca, que está em vigor até hoje.
Os ingleses cortaram o Oriente Médio em fatias. Colocaram muçulmanos de tendências opostas dentro de um mesmo país. Desmembraram a região em linhas retas. Foi obra de Winston Churchill com objetivo de manter o domínio inglês na região. Na Europa, década depois, Hitler iniciou sua perseguição aos judeus que se espalharam por todo o mundo. A maioria deles, no leste europeu, preferiu migrar para a Palestina, que era protetorado britânico. Tempos depois, ao final da segunda guerra, foi criado o estado de Israel, destinado a conviver em paz com os palestinos. O problema europeu, a perseguição de judeus, se transformou em assunto sério no Oriente Médio. Israel não tem petróleo, mas seus vizinhos, sim. Qualquer briga lá, interfere no comércio em todo o mundo.
Uma instituição judaica chamada Haganah, que posteriormente iria se transformar no Exército de Israel, forneceu meios e modos para que judeus se instalassem na Palestina, contra a orientação dos ingleses. Sabotaram instalações, dificultaram ações dos governantes locais e assumiram funções terroristas até que recebessem condições para criar um novo país. Israel surgiu em meio a pesada guerra contra seus vizinhos árabes. Nunca teve vida tranquila e fácil. O normal naquela área é a guerra. Mas a circunstância de que a região é a maior produtora de petróleo do mundo, coloca o conflito numa escala mundial. É um assunto local, permeado por questões religiosas, complicado pelo expansionismo de Israel, que influi nos destinos do mundo.
A guerra entre Israel e seus vizinhos não é novidade. Novidade é o Irã entrar no conflito. Já foi o principal apoio dos Estados Unidos na região, quando ainda se chamava Pérsia. Não é um país árabe. O idioma que se pratica no país é o farsi. Tem nível interessante de desenvolvimento. E está muito perto de produzir uma bomba atômica. Já reúne os conhecimentos necessários para construir o artefato. Neste momento, o mundo está bordejando uma séria possibilidade de tragédia de enormes proporções na região. Israel tem bombas atômicas. Se o governo se sentir ameaçado, como foi recentemente com a chuva de mísseis vinda do Irã, pode recorrer ao gesto supremo e fazer o cogumelo nuclear brilhar naquele céu.
São duas guerras perigosas. A de Israel contra seus vizinhos não tem parâmetros. O exército israelense mata tudo que vê pela frente: mulher, criança, velho e eventualmente o inimigo. A outra guerra é da Ucrânia, em que a Rússia se atolou e revelou a atual fraqueza do antigo exército vermelho. Putin e Netanyahu sabem que Joe Biden já é um legítimo pato manco. Está em fim de mandato. Em janeiro estará fora do poder. E apostam na vitória de Donald Trump. Se o republicano vencer a eleição nos Estados Unidos, Putin deverá dominar rapidamente a Ucrânia e os palestinos deixarão de existir, porque o primeiro-ministro vai conseguir chegar a seu objetivo: criar a grande Israel, ou seja, ampliar seu espaço vital.
Hitler, por acaso, tinha o mesmo objetivo para a Alemanha, na Segunda Guerra Mundial. Espaço vital. A eleição nos Estados Unidos que deverá ocorrer em novembro próximo vai ajudar a definir o conflito. Por esta razão, as tropas israelenses precisam avançar mais, devastar mais, matar mais, para criar um fato consumado, em torno do qual ocorrerão as negociações com o novo presidente dos Estados Unidos. Neste caso, a guerra no Oriente Médio coloca em jogo mais que o petróleo. O destino da democracia no Ocidente está na mesa de apostas.
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