Ser estúpido é um azar. Prejudica. Dá mais trabalho. Atrapalha. Causa atrasos e malentendidos. A única vantagem de ser estúpido é ser-se capaz de enfurecer os espertalhões com muito pouco esforço.
Como é proibido chamar estúpidas às pessoas – mesmo àquelas que não são –, a estupidez é um flagelo invisível. Apesar de ser a causa principal – alguns diriam a única – de tudo o que corre mal, a estupidez atira sempre com as culpas para outra causa qualquer.
Teoricamente, é possível retraduzir o discurso público para obter as equivalências da estupidez que são culturalmente autorizadas.
São palavras como incompetência, falta de profissionalismo, estreiteza de vistas, inocência, simplicidade, e uma imperturbável alegria de viver.
Mas é muito bom sinal aceitar a estupidez e fazer o respectivo desconto. Quando alguém nos diz, desculpando as acções de um estúpido, que “não foi por mal”, a única maneira justa e saudável de reagir é aceitar esse apelo à intenção.
O inferno não está cheio de boas intenções. Pelo contrário, não há uma única boa intenção no inferno. O inferno está é cheio de bons resultados.
Se isto fosse uma tese, chamar-se-ia “Intenção, Resultado e Merecimento na Cultura Portuguesa”. Felizmente, isto deixa-se complicar até mais não, mas não aqui.
Ao longo da vida – mais depressa para quem dá aulas –, vemos que os grandes esforços andam divorciados dos grandes resultados, que a qualidade humana é completamente independente do talento e da inteligência, e que as intenções estão entre as poucas coisas que se podem julgar com generosidade.
Cada vez é mais fácil preferir um mau resultado, obtido com boas intenções, a um bom resultado, obtido com más.
A estupidez também precisa de ser reenquadrada: não acredito que os estúpidos sejam todos bonzinhos.
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