terça-feira, 19 de dezembro de 2023

De Homo Sapiens a o quê?

Todo mundo sabe que há milhões de anos o ser humano era um bicho na floresta como tantos outros. Hoje classificamos esse exemplar ancestral como Homo Sapiens, cheio de sinais de progresso mas ainda primitivo, como o gorila, o macaco, o urso e outros animais muito especiais. De todos esses, o Ser Humano foi o único que progrediu porque tinha na sua formação elementos que o faziam progredir.

Quando descobrimos os sinais de que podíamos progredir, progredimos. Ainda éramos selvagens quando começamos a cruzar com outros animais dos quais só ganharíamos o prazer de estarmos cruzando. Mais nada.

Dizem que foi na África que encontramos nossos parceiros mais convenientes, aqueles com os quais poderíamos construir um futuro de sabedoria e civilização (aliás, tudo parece ter começado na África, inclusive uma espécie de Língua Geral da qual acabamos por tirar, em geral, nossa forma de falar). Ou a Religião nas formas que a conhecemos. Mas isso não importa agora.

O que importa agora (e sempre) é saber que nossa origem foi tão selvagem quanto a de todos os outros animais. Toda inteligência tem um lado de malandragem que se organiza para levar vantagem em tudo; a nossa surgiu mais claramente quando precisamos encontrar um pessoal que topasse se submeter sem protestar. Como se fosse a mais natural coisa do mundo.

E foi aí que a onça começou a beber água.


Submetemos a nós mesmos todo mundo que havia cruzado com a gente. No continente asiático reencontramos os povos que havíamos conhecido, os mesmos com os quais já tínhamos até formado famílias. Gente que, além da mesma tendência de tentar uma civilização qualquer, ainda tinha qualidades bélicas, virtudes amorosas, veleidades com um futuro que ninguém ainda conhecia. Mas nossos líderes, espertos como eles só, não se deixaram iludir por essas qualidades. Eles sabiam que aquele futuro nos custaria caro. Mas apostaram nisso, acho que não tinham outra saída.

E ganharam a aposta. Os animais selvagens foram desaparecendo aos poucos e, em muito breve, logo nos tornamos os reis da natureza. Mais do que os reis, éramos os senhores da natureza. Começamos a comer a carne de outros animais, a controlar todas as sociedades (às vezes apenas bandos) que os cercavam, a nos organizarmos acima dos percalços do que fosse natural, acima da natureza e com o domínio de todas as suas variáveis, tudo que pudesse de algum modo modificá-la para o Bem ou para o Mal.

É claro que o tédio tomou conta da Humanidade, agora única. Para romper esse tédio tínhamos que inventar novas formas de viver. Mas nenhuma delas nos compensou, mesmo que tentássemos as formas mais originais de alcançá-las.

Algumas dessas experiências nos levaram até a uma desilusão com o gênero, a um desafio que não sabíamos como enfrentar. Porque apelamos para tudo, desde organizações sociais esdrúxulas e muitas vezes sem sentido na luta pelas quais podíamos perder a vida, como também experiências pessoais que fumamos, cheiramos, injetamos, praticamos toda a sorte de violência no consumo contra nós mesmos e contra nossos corpos.

Hoje vivemos um tempo em que nossos problemas se resolvem na discussão de novos critérios que precisamos estabelecer. Quer dizer, os temas de nosso interesse passaram a ser inteligência artificial, no hay plata, avatares de pessoas mortas, crise climática, essas coisas. Não sei por quanto tempo suportaremos isso.

Ou será que encontraremos outro caminho? Tomara.

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