O mal é que interrompo logo a leitura para ir à Wikipedia e ao Twitter ver as fontes e, sem querer, formar logo uma opinião sobre o artigo em questão. É uma proximidade indesejável para quem gosta de ler os jornais, levando à exclamação igualmente indesejável: “Assim também eu…”
O mal ainda não chegou aos países latinos, mas, à medida que a Internet vai crescendo e se vai vulgarizando, é inevitável que chegue.
Dantes, os jornalistas tinham fontes que não eram imediatamente acessíveis aos leitores: arquivos próprios do jornal onde trabalhavam, livros e entrevistas com pessoas difíceis de contactar. Esta condição privilegiada — de ter acesso a fontes que não eram atingíveis pelo comum dos mortais — fazia com que o leitor quisesse partilhar os frutos desse acesso.
Também o trabalho do jornalista — trabalho de correr de um lado para o outro, falando com pessoas muito diferentes, compilando e contrastando testemunhos — atraía o leitor que, gulosa e preguiçosamente, queria beneficiar das conclusões.
Agora o jornalismo americano e inglês tende para ser a Wikipedia Plus. Apetece gritar. E aquilo que apetece gritar é aquilo que qualquer leitor quer: “Ó pá, diz-me alguma coisa que eu não saiba, baseado nalguma coisa que eu não possa ir ver!”
Um truque recente é escrever um texto baseado na Wikipedia que, para se justificar, aponta deficiências nas entradas que se consultaram. A ironia é pesada: a Wikipedia incorpora imediatamente a correção e, quando os leitores vão verificar, ficam com a ideia de que o jornalista está maluco.
Para mais, hoje em dia, todos os portadores de telemóveis se consideram investigadores exímios e o passatempo principal é pôr em causa o trabalho dos jornalistas. É preciso voltar às fontes inacessíveis.
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