É curioso que na Amazônia (e outras florestas) se mantenha o modelo de governança colonial espoliativo que inaugurou o Novo Mundo no século XV. Ao que parece, a descolonização nessas áreas não se completou.
Há uns vinte anos vi algo parecido no México. Fui conhecer um projeto indígena que exportava café gourmet para consumidores solidários europeus. A região, infestada por grileiros, latifúndios e criminosos, lembrou a nossa Amazônia.
Subimos a selva montanhosa durante muitas horas em estrada intransitável, entre as regiões de Chiapas e Oaxaca. O clima na vila era tenso. O tráfego de jipes militares com suas Browning .50 era ostensivo.
Assim como no México, o enredo amazônico é secular. A degradação gradual do tecido legal e social segue uma ‘crônica de uma morte anunciada’.
Na Amazônia, como em outras florestas, o interesse privado juntou-se ao desinteresse público, para lucrar com a pobreza humana e a riqueza natural (nesses lugares, o abandono tornou-se a principal política pública).
Pude ver o mesmo na Colômbia, transbordando a violência da guerrilha e do tráfico nas florestas para cidades, como Medellín. A solução exigiu investimento vultoso e planejamento inovador.
Outro exemplo é o das selvas africanas, onde novos colonizadores estimulam o desvio de minerais valiosos, para produção de celulares e artefatos nucleares da China e Coreia do Norte (novas tecnologias, antigos métodos).
Por sua vez, o Brasil insiste no eufemismo do bandeirante herói, romantizado, que agia nos sertões sem lei até o século XVIII, subjugando índios, tomando terras, traficando ouro, diamantes e escravos, sob a leniência de Lisboa.
Ainda no século XVIII, o Marquês de Pombal oficializou a dilapidação da Amazônia, criando a Companhia Geral de Comércio do Grão Pará e Maranhão (também para vender escravos e raspar o tacho das riquezas locais).
Nessa toada, a floresta amazônica vive, ainda hoje, um prolongamento daquela ocupação, ora ilegal, ora ‘legalizada’, que fincava os marcos da soberania portuguesa, enquanto o governo não chegasse.
Porém, na Amazônia atual, não se justifica que permaneça a tolerância com os bandeirantes de hoje (grileiros, garimpeiros, madeireiros e outros). As fronteiras estão consolidadas e, bem ou mal, o Estado brasileiro em suas diferentes formas já está na Amazônia, apoiado pela Segurança Pública e a Defesa. Resta governá-la.
A esse cenário, adicione-se os agravantes da mudança climática em curso. É inadiável deixarmos de tratar a Amazônia como colônia do Brasil e integrá-la a um projeto de país, antes que a soberania escorra rio abaixo, como em outras florestas pelo mundo.
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