Definitivamente não é possível haver um número tão grande de ideias diferentes sobre a direção e o futuro do Brasil quanto o de partidos no país.
Por que, então, há 32 partidos no Congresso? E por que surgem sempre legendas novas? Por que no Brasil é impossível criar um sistema partidário compreensível e evitar a superlotação do Legislativo com uma cláusula de barreira?
O que está claro é que muitos partidos no Brasil não representam ideologia alguma. Eles não têm programas nos quais apresentam propostas concretas para o combate à pobreza, desigualdade social, desemprego e criminalidade e sobre como pretendem aumentar o acesso à educação e a qualidade de vida. Na melhor das hipóteses, encontram-se promessas e anúncios vagos nas suas declarações.
Muitos partidos, portanto, não estão muito preocupados com a prosperidade do Brasil. Com frequência, trata-se apenas de ocupar assentos no Legislativo, receber salários altos e aproveitar os mais diversos privilégios, que no Brasil são um tanto antiquados. Os parlamentares brasileiros trabalham menos, mas proporcionalmente ganham muito mais do que os alemães (em relação à renda média do seu país). E ainda podem acomodar e garantir o sustento de amigos e parentes em seus gabinetes.
Dessa maneira, muitos partidos brasileiros são meros veículos para assegurar uma vida relativamente confortável e privilegiada a determinados indivíduos. São sempre as mesmas famílias, clãs, predominantemente homens e brancos, que se beneficiam desse modelo. Por isso, nada de fundamental muda na política brasileira e novas ideias não são colocadas em pauta.
Entre os rituais desse sistema político disfuncional está a janela partidária. Para mim, nada expressa melhor o vazio programático e o oportunismo. Nas últimas duas décadas, a Câmara dos Deputados teve, em média, uma troca partidária a cada sete dias. Um dos que mais trocou de camisa partidária é justamente o presidente Jair Bolsonaro – foram ao todo nove vezes.
Essas mudanças ocorrem raramente por convicções políticas, mas muito mais pela busca de posições mais promissoras de modo a ampliar a participação no poder e o acesso a verbas. Neste ano, o período para troca de legenda chegou a ser prorrogado devido a interesses locais de parlamentares. E veja só, o inevitável Centrão, esse boa vida da política brasileira, ampliou suas bancadas e saiu fortalecido para as eleições deste ano. Ao todo, 132 parlamentares trocaram de partido. Assim, o sistema que deveria servir a todos os brasileiros se curvou mais uma vez aos interesses pessoais dos privilegiados. Não há melhor maneira de resumir a ordem social, quase feudal, do Brasil, que encontra sua continuidade na política.
Uma figura me chamou especialmente a atenção: Eduardo Cunha. Ele se filiou ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) – mais uma legenda com nome enganoso, que tem apoiado, sem exceção, todos os presidentes desde Fernando Collor, passado por Lula e Bolsonaro – para se candidatar a deputado federal. Para mim, não está claro como isso será possível, pois ele continua inelegível por conta da Lei da Ficha Limpa, desde que teve o mandato de deputado cassado, em 2016. Mas ele deverá encontrar alguma maneira de entrar no Congresso com o bilhete do bolsonarismo (alguém ainda se lembra de que Bolsonaro foi eleito para combater a corrupção?) e, assim, desfrutar novamente das vantagens do foro privilegiado.
A filha de Cunha também é pré-candidata a deputada federal por algum desses partidos comutáveis. Assim como vários filhos, filhas, netos, sobrinhos e sobrinhas de políticos. Não por ideais, mas para entrar na lucrativa política. E ainda há aqueles que se perguntam por que nada muda.
Philipp Lichterbeck
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