sábado, 12 de março de 2022

Em busca do tesouro perdido

Um mapa, um caminho pontilhado, um X, uma expedição minuciosamente organizada, um deslocamento árduo – ainda que profícuo – a navegar pela internet, uma pá. Uma desilusão. A metáfora do tesouro perdido combina com a maioria dos casos do recém prometido reembolso do dinheiro esquecido nas contas desativadas do sistema bancário nacional.

Longe de mim julgar que todos saíram frustrados desta aventura de galeões e piratas. Acredito com todas as forças em histórias afortunadas e resgates épicos. De minha parte, o CPF perdeu feio para os bolsos dos casacos, calças e jaquetas do roupeiro: “nada consta” foi a seca resposta. Nas incursões distraídas de minhas mãos nas roupas, vira e mexe surge uma nota de dez ou, no mínimo, uma moedinha de 25 centavos. Bendita seja a distração!

Fico um pouco triste com a decepção da imensa maioria das pessoas. A promessa tinha ares de redenção: milhões dormindo em baús enterrados aos pés de coqueiros de uma ilha chamada Esperança. Não era loteria, que demanda sorteio: o sinalizado era a justa propriedade. Dinheiro nosso que determinados passos no site do Banco Central – a tal linha pontilhada – ajudaria a revelar. A correria foi tão grande que, nos primeiros dias, chegou a travar o sistema. O que ninguém imaginava é que milhares de CPFs pulverizam qualquer cifra…

Minha sogra, por exemplo. Ela foi uma que acreditou na boa nova. Confiou ser uma das afortunadas desafortunadas. Não descansou enquanto não averiguamos seu suspeitado tesouro. E o Banco Central não a decepcionou: havia não uma, mas duas contas com valores a resgatar. Porém, mesmo quando somados, os saldos não chegavam a R$1,00. Ou seja, desenterramos os baús e, dentro deles, uma garrafa de Pepsi-Cola com o gargalo lascado e um bilhete de rifa já vencido era todo o prêmio que nos aguardava.

Oh, dor. Em quase todos os mapas, para onde se olha, vemos tempos de muito desencantamento.
Rubem Penz

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