Não é sobre esquerda e direita, Lula, Bolsonaro e o candidato da terceira via, mas sobre o programa mais bem-sucedido de transferência de renda para os brasileiros mais pobres, elogiado em todo o mundo e copiado por vários países, como o México.
Uma vez que Bolsonaro, ameaçado de não se reeleger, afinal descobriu os pobres, a questão parece pacificada pelo menos até o fim do próximo ano. A pandemia aumentou a concentração de renda. Os pobres ficaram mais pobres, e os ricos mais ricos.
É com pesar que em uma hora dessas, e sem algo melhor para pôr no lugar, comunique-se que o Bolsa Família acabou ontem, dia 7 de novembro do ano sem graça de 2021; sem graça porque foi um ano de vidas perdidas que poderiam ter sido salvas.
O governo ainda avalia o que fazer. Pode prorrogar o pagamento do Auxílio Emergencial de 300 reais aos beneficiados pelo Bolsa Família. Ou pode dar uma sobrevida ao Bolsa Família editando nova medida provisória. Alguma coisa será feita.
Na semana passada, o problema parecia resolvido com a aprovação em primeiro turno na Câmara da Proposta de Emenda Constitucional dos Precatórios. Ela abre espaço fiscal de 91,6 bilhões, o bastante para pagar 400 reais a 17 milhões de famílias.
Seria dinheiro aplicado na veia dos brasileiros mais pobres, dos quais Bolsonaro depende para se reeleger. Mas a proposta será votada na Câmara pela segunda vez e periga ser sepultada. Se não for, poderá ser no Senado, mas não antes do fim deste mês.
Como atravessar de mãos vazias o intervalo entre a morte do Bolsa Família e o nascimento de um novo programa previsto para durar somente até dezembro do ano que vem? Os pobres estão comendo ossos; a inflação, os juros e o dólar estão em alta. E então?
No meio da pandemia, Bolsonaro disse que não era coveiro. A um ano da próxima eleição, não teria coragem de repetir a frase. Seja ele ou qualquer outro eleito, o presidente que governará o país a partir de 2023 receberá uma herança maldita para administrar.
Segundo projeções feitas para o fim de 2022 por economistas ouvidos pela Folha de S. Paulo, praticamente todos os grandes indicadores macroeconômicos estarão em níveis piores do que estavam quando Michel Temer (MDB) concluiu seu governo.
Será um cenário de juros, inflação, desemprego e endividamento mais elevado, e de nível de atividade, investimentos estrangeiros e câmbio mais fraco.
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