terça-feira, 22 de junho de 2021

500

O evitável se tornou inegável. O Brasil passou da marca de 500 mil mortos por Covid-19. Isto é meio milhão de pessoas. O número repercutiu desde o fim de semana. Porém me pergunto se há um entendimento real de seu significado. Números de dados possuem uma característica impessoal. Entendemos sua mensagem, embora o impacto emocional não venha atrelado. O que são 500? Nem no filme dos 300 vimos tantos personagens.


Pode-se acrescentar uma comparação para ajudar a se ter uma noção do que este número atrela. A quantidade de habitantes em uma cidade. Araraquara, no interior paulista, que acabou de sair de seu segundo lockdown, tem população estimada em 238.339. Em breve, teremos o equivalente a duas Araraquaras debaixo da terra. Por outro lado, nem todos conhecem Araraquara. De novo, a falta de uma conexão emocional ameaça emergir devido à distância de uma parcela brasileira. Que tal um lugar com mais presença no imaginário popular, como Copacabana? Em 2013, moravam na Princesinha do Mar cerca de 150 mil pessoas. Desconsiderando as variações menores que ocorrem na demografia em menos de uma década, a pandemia matou mais que três Copacabanas lotadas. Ou um sexto do público recorde contabilizado no bairro na virada de ano para 2020. Novamente, talvez haja uma dificuldade em reconfigurar o número de mortos. Embora conhecida pelo país, Copacabana tem um aspecto tão folclórico que a afasta de um sentimento comum. Copacabana poderia ser em Marte (e, às vezes, parece mesmo). Estádios de futebol, então? Peguemos dois, um no Rio de Janeiro, outro em São Paulo: Maracanã e Morumbi. Morreram o equivalente a quase sete Maracanãs e quase nove Morumbis em capacidade máxima. Futebol é o esporte do povo, e esta é a quantidade dele que faleceu devido a uma doença que já existe vacina. Entretanto, existem aqueles que não assistem a jogos…

Última tentativa: sabe aquela postagem em rede social, que se tornou diária, sobre alguém que morreu de Covid-19? Imagine receber 500.000 notificações de falecimento de uma vez.
Daniel Russell Ribas

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