A existência de uma liderança positiva, capaz de unir o país em torno de um destino comum tem sido a diferença nas nações que começam a vencer a guerra contra a Covid-19. Nos Estados Unidos do governo de Joe Biden houve uma mudança da água para o vinho em relação à era Trump. Lá estão vacinando mais de dois milhões de pessoas por dia, o presidente incentivou o uso de máscara e colhe os resultados, com a queda expressiva das mortes por covid.
O mesmo acontece na Inglaterra de Boris Johnson. As mortes caíram 27% em uma semana, 28% dos ingleses já foram vacinados e em abril começam a vacinar as pessoas entre 40 a 49 anos.
Na Itália, esquerda e direita deixaram de lado suas diferenças. Formaram um governo de união nacional voltado para o combate à covid e para a reconstrução do país. Até a Liga, partido nacional-populista e eurocético, aderiu ao governo do novo primeiro ministro, Mario Draghi, ex-presidente do Banco Central Europeu, carinhosamente chamado de Super Mário pelos italianos.
No Brasil, o presidente é uma liderança negativa e desagregadora que guerreia contra tudo e todos, menos contra o coronavirus. Guerreia contra as máscaras, contra o distanciamento social, contra a vacina. Guerreia com governadores e secretários de Saúde, contra a verdade e contra a saúde dos brasileiros.
Não é de estranhar, portanto, que enquanto em grande parte do mundo as mortes e os casos de infecção recuam, no Brasil disparam. Ontem o país teve novo recorde de mortos, 1.726, e bateu o recorde de média móvel de óbitos pelo quarto dia consecutivo. Nesta 4° feira completaremos 42 dias seguidos perdendo mais de 1.000 brasileiros a cada dia. Antes do final de março podemos chegar a dois mil por dia.
Tivéssemos uma liderança capaz de promover a coesão nacional, o Brasil estaria agora tomando as medidas necessárias para evitar que as pessoas morram como moscas no que deve ser o pior março de nossas vidas.
Secretários de Saúde clamam pelo toque de recolher em todo o território nacional e lockdown onde a ocupação de leitos de UTIs chegue a 85%. O mesmo defendem ex- ministros da Saúde de diferentes governos, como José Serra, Alexandre Padilha, José Gomes Temporão e Luiz Henrique Mandetta. Todos são unânimes quanto à necessidade de medidas drásticas durante duas ou três semanas para evitar o colapso total neste mês.
Mas elas não virão pelas mãos de Jair Bolsonaro porque isto seria admitir sua contundente derrota. Líderes populistas não são dados a tomar medidas duras quando elas podem afetar a sua popularidade.
O Brasil virou o epicentro da pandemia, preocupa o mundo inteiro e tem tudo para ultrapassar os Estados Unidos em número de mortos, se a condução do combate ao vírus continuar na mesma toada do negacionismo.
Na última audiência no Senado o ministro da Saúde apelou para as leis da guerra para evitar que o Parlamento cumpra seu papel investigativo com a instalação da CPI da pandemia. Segundo Eduardo Pazuello isto seria abrir uma nova frente de combate, algo equivalente ao erro de Hitler na Segunda Guerra Mundial, que travou, simultaneamente, a batalha nas frentes oriental e ocidental.
Convenientemente, Pazuello esqueceu-se de outros ensinamentos de guerra, entre eles o de concentrar o golpe na direção principal. No caso da pandemia, no coronavírus e na vacinação em massa. Nesse terreno, sua gestão já fracassou. O Brasil tem vacinado em média pouco mais de cem mil pessoas por dia.
Nas guerras, comandantes que cometem graves erros são destituídos, quando não enfrentam corte marcial. Que general continuaria no comando tendo sérias responsabilidades pela morte de 250 mil soldados?
No Brasil de Bolsonaro, Pazuello continua impávido no cargo. Pode morrer um milhão de brasileiros e ele continuará ministro. Basta obedecer cega e servilmente ao presidente.
Com eles, a guerra está perdida. A única maneira de evitar a derrota total é o Parlamento “parar esse cara”, como prega o senador Tasso Jereissati.
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