Ao longo de toda a sua vida política, o atual presidente, Jair Bolsonaro, sempre deixou claro, através de inúmeras ações e embates, que, diante da ausência do diálogo e do respaldo de sólidos projetos, enveredaria pela propagação da desinformação, das teorias conspiratórias e, sobretudo, dos violentos ataques aos que ousassem discordar de suas narrativas, por vezes alucinadas.
O que explicitamente poderia compor contra a sua pretensa caminhada, encontrou simpatia em uma massa que cresceu exponencialmente ao longo dos últimos anos por diversos motivos, seja por admiração, similaridade de pensamentos ou simplesmente raiva da urna eletrônica; razões pelas quais, em 2018, seus eleitores garantiram a cadeira presidencial para o Forrest Gump tupiniquim.
Com Bolsonaro, o país rubricou por quatro anos o mais caro pacote combo dos planos ofertados por ocasião da eleição, já que a reboque, os brasileiros ganharam não somente um contador de histórias, mas também três figurantes de mandatários – os filhos 01, 02 e 03 – com direito a vergonhosos pitacos na condução do país, gerando, por vezes, estrondosos ruídos internacionais, além de um vasto leque de questionáveis ministros e secretários que seguem à risca a premissa do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
Thomas Wong (Canadá) |
Assim, Bolsonaro se faz onipresente em todos os ministérios e secretarias. Espirrou fora do tom, está fora. Sem conversa ou direito à explicação. E que passe a boiada, adiante com o berrante, sob a batuta do imperativo monólogo presidencial.
Desde quando ainda cochilava pelas Casas Legislativas, e lá se foram três décadas, Jair sustentou o seu vazio discurso através de pautas igualmente descabidas, a exemplo da luta contra a invasão comunista, da urgência em disponibilizar vias legais para que o cidadão “de família” andasse armado ou ainda da sumária exclusão das falsas cartilhas escolares, entre tantas outras bandeiras fugazes e duvidosas.
Ao longo de dois anos de mandato no Planalto, o atual presidente remou contra a maré quase que diariamente, contradizendo recomendações adotadas por todo o mundo, ignorando a realidade pandêmica, chutando estatísticas, expondo a população à própria sorte, promovendo desencontros e rindo da promoção de conflitos.
Entoando o seu samba de uma nota só, Bolsonaro foi capaz de mentir reiteradas vezes para todo o país, negando os seus próprios discursos anteriores, inflamando os seus currais eleitorais, quebrando a bússola do bom senso e deixando o país definitivamente sem rumo.
Não há seriedade ou planejamento estratégico. As promessas de mudanças ficaram restritas à campanha eleitoral e, ainda que consiga chegar até o fim de sua gestão, Bolsonaro certamente não conseguirá provar a que veio. E não por culpa da crescente e insatisfeita oposição, pelos percalços do caminho ou ainda em virtude da crise sanitária, mas pela sua intrínseca incapacidade de gerir um condomínio, quiçá um país de dimensão continental.
Parafraseando o cineasta Luis Buñuel, “as oportunidades não abundam, e raramente as encontramos uma segunda vez”. E, por maior que seja a resiliência exigida da sociedade, o presidente ultrapassou o seu limite no cartão corporativo da boa vontade e já deu reiteradas oportunidades para ser cancelado definitivamente do cenário político. Só falta o providencial carimbo em seu passaporte para uma viagem apenas de ida.
Por enquanto, o Brasil segue desgovernado e à deriva. Os poucos coletes que ainda restavam, Bolsonaro fez questão de jogar ao mar.
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