sexta-feira, 10 de julho de 2020

Bolsonaro é o ciclone-bomba

Louco. Lunático. Psicopata. Sociopata. Genocida. Cruel. Esdrúxulo. Inepto. Ignorante. Insensível. Rastaquera. Rude. Machista. Homofóbico. Arrogante. Tirano. Desequilibrado. Inconveniente. Chulo. Insolente. Oco. Irascível. Mentiroso. Violento. Vingativo. Manipulador. Abominável. Bizarro. Perigoso. 

Um formidável conjunto de adjetivos, listados acima, tem sido associado ao presidente do Brasil ao longo de seu mandato por pessoas de diferentes idades, níveis de instrução e origens. Essas qualidades atingiram uma diversidade espantosa durante a pandemia, em dezenas de artigos na imprensa nacional e estrangeira.

B. é considerado hoje o pior líder do planeta no combate ao novo coronavírus. Pior do que Trump, segundo o Washington Post. Uma ameaça ambulante à vida humana e ambiental. E, portanto, à viabilidade comercial e econômica do Brasil como parceiro. B. não apenas corta água potável para os índios ou queima a Amazônia. Ele corta nosso oxigênio cultural e educacional. É o ciclone-bomba.


Percebam que não há nesses adjetivos duros nenhum viés ideológico. Não escrevi “fascista”. São falhas sobretudo de caráter, que não definem extrema direita ou extrema esquerda. 

O mais carinhoso adjetivo atribuído a B. foi o primeiro, o “tosco”, quando ainda só falava errado e se gabava de comer pão com leite condensado. Depois, o país condescendente o chamou de populista de direita. Mas populista costuma ter apoio de 70% e não 30%. Nem sei se continua popular em casa.

Coitada da Michelle. Em cerimônia do Dia Internacional da Mulher, ela precisou parar o discurso e se dirigiu a B.: “Psiu, eu estou falando. Posso continuar?” A primeira-dama prometia “um Brasil mais justo, seguro e inclusivo”. Imagino por que Michelle não aparece mais e, nas raras vezes, está de máscara. A pandemia mostrou a pior face de seu esposo. 

Você leu, Michelle, que o governo do B. se aliou à Arábia Saudita para vetar o termo “educação sexual” em resolução na ONU contra a discriminação de mulheres e meninas? E que o Brasil agora se opõe a citar “saúde sexual e reprodutiva” num texto de países africanos destinado a banir a mutilação genital feminina? Essa violência indizível atinge 3 milhões de meninas por ano. Cristã, como você se sente? Ou sua leitura se resume às fake news produzidas no Palácio?

Articulistas estrangeiros dizem sentir “pena, raiva e vergonha” pelo Brasil. Mesmo sem ser brasileiros. Citando o Juan Arias, do El País: “O que aflige Bolsonaro é algo muito mais grave, é uma doença da alma, uma doença sem cura. Alardeia ser católico, evangélico e se importar mais com a Bíblia do que com a Constituição. Deveria saber que nesses textos fica evidente que todos os pecados podem ser perdoados, menos o da soberba que pressupõe que a pessoa se coloca acima de Deus. O vírus de Bolsonaro é de um gênero diferente do que já contagiou milhões. O seu é diabólico”.

Se for verdade que contraiu o novo coronavírus e não virou apenas um mercador da cloroquina ou um miliciano da medicina, B. é inqualificável em seu comportamento na doença. Diz que “máscara é coisa de viado”, não dispensa assessores e aperta a mão de visitas constrangidas, segundo Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. Age como homem-bomba, com a diferença de que não vai explodir junto porque não tem vocação para mártir.

B. não é homem-bomba. Repetindo: é o ciclone-bomba. O fenômeno, com rajadas impiedosas de vento que causaram estragos e mortes, é provocado pelo choque de massas. Se você não confiar na reação do STF e do Congresso, ao menos confie nos meteorologistas. O B. vai passar.

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