domingo, 21 de junho de 2020

Amanhã há de ser outro dia

Por quanto tempo teremos que lidar com o acaso em nossas vidas? Infelizmente, o Brasil se colocou acima do bem e do mal enquanto o mundo se mobilizava para controlar a pandemia. Era evidente que esse maldito vírus não tardaria a se espalhar entre nós. E o nosso presidente tem muita responsabilidade sobre isso.

Hoje ocupamos o segundo lugar — depois dos EUA — entre os países com o maior número de óbitos. Apesar de a contaminação ter se dado em todas as classes sociais, foram as camadas mais pobres da população que o vírus mais afetou. Principalmente, nas aglomerações urbanas informais com moradias precárias e sem infraestrutura.

As incertezas continuam aumentando a cada dia. Que futuro nos espera depois dessa pandemia? Se nada for feito teremos uma recessão jamais vista. Os Estados Unidos destinaram cerca de quatro trilhões de dólares para ativar sua economia e mais dois trilhões para as necessidades da área de saúde e da população desassistida. O Brasil disponibilizou apenas 40% dos 400 bilhões de reais destinados para esse fim.


Infelizmente, boa parte desses recursos foi surrupiada em negociações fraudulentas com a conivência de políticos e empresários. Houve, também, desperdício de dinheiro público. Um exemplo é o que está sendo gasto na produção em larga escala de cloroquina pelo Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército, por determinação do presidente.

Por essas e outras notícias precisamos defender e valorizar o papel desempenhado pela mídia tradicional nas democracias. Não dá para confiar — como muitos confiam — nas redes sociais que manipulam a opinião pública com falsas verdades para atacar os adversários do governo.

Ao invés de dar armas ao povo para defendê-lo, o presidente deveria estar mais preocupado em armar a população com educação, saúde e ciência, como disse o ministro do STF Luís Roberto Barroso. A ignorância e a truculência não podem ser balizadoras do futuro desta nação.

Quanto mais a crise na saúde se agrava, mais o modelo econômico atual mostra a sua fragilidade. Muitos conceitos dogmáticos da economia neoliberal se mostraram ineficientes ou superados. O momento é oportuno para o Estado retomar o discurso social, descartando os populismos de ocasião. Aspectos relevantes da política do bem-estar social precisam ser recuperados em nome da justiça social.

Por outro lado, as cidades não podem continuar atreladas ao paradigma da urbanização predatória. Seja no contexto urbano formal ou na informalidade. O tão incensado pragmatismo de resultados imediatos já mostrou sua ineficácia em várias operações urbanas malogradas.

Além da necessidade de políticas sociais abrangentes, o planejamento urbano como política de Estado se mostra capaz de reverter a situação caótica em que se encontram as nossas cidades. Conhecer, avaliar e propor soluções de curto, médio e longo prazo continua sendo o caminho mais consistente para enfrentar os complexos desafios urbanos.

Ambiências urbanas renovadas são indispensáveis para valorizar o espaço público e elevar a autoestima da população. A proximidade entre o poder público e as representações de moradores facilitará a formulação de projetos para atender às necessidades de cada localidade e às expectativas do conjunto da sociedade.

Com as eleições municipais se aproximando, seria de bom tom deixar de lado as idiossincrasias ideológicas que estimularam o voto útil nas eleições passadas, e escolher candidatos que tenham um compromisso irrefutável com a democracia. Não dá pra conviver com o obscurantismo de governos com perfil teocrático ou autocrático.

Precisamos de governantes que saibam, de fato, conduzir a gestão da cidade. Quem vive no Rio percebe o quanto um governo omisso pode ser desastroso. Cidades mais justas e com melhor qualidade de vida é o que a sociedade espera dos governantes.

Temos que ser propositivos para romper com o estigma da exclusão social. Não há tempo a perder diante da perspectiva de amanhã vir a ser outro dia.

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