segunda-feira, 11 de maio de 2020

O ano do Estado da morte

Os mortos de 2020 não são os da ditadura, enfiados em valas desconhecidas e assassinados por torturadores ocultos em registros escondidos ou destruídos. Os de hoje têm cara, identidade e local identificado. Também seus algozes - no momento livres, leves e soltos brincando com o sofrimento nacional - são por demais conhecidos para tentarem se eximir da mortandade.

Os corpos não serão jogados no colo apenas de um desvairado, que instituíram como salvador da pátria, para expurgar a corrupção, reorganizar a economia e redemocratizar o existente Estado Democrático.

Muitos, bem mais do que se pensa, também serão responsabilizados pelo ano da peste brasileira. Há os que protagonizaram a tragédia e seus coadjuvantes por todo o Executivo e mesmo grande parte do Legislativo e Judiciário. Não estão limpas as mãos na saúde, na cultura, na agricultura, nos direitos humanos (argh!), na economia, na educação, nas instituições de Estado, em todos os gabinetes que se tornaram de ódio. Nem as fardas sairão incólumes, sujas com a terra de cemitério. Sejam os que gargalham sobre caixões, ou silenciam coniventes, serão os mortos-vivos que perambularão pela história marcando com sal suas descendências.

Poderá não existir um julgamento de Nuremberg, mas no futuro nenhum taifeiro vai jogar as ossadas para debaixo do tapete. As fotos estarão lá e as valas comuns receberão monumentos de homenagem aos traídos pelos tais patriotas.

Nunca se matou tanto no país sob a desorganização governamental e a orientação inconsequente de um ex-capitão, como o ex-cabo austríaco Adolf Hitler quase dizimou a Alemanha. Ainda nunca na história deste país toda a população sofreu tanto de desemprego, fome e miséria, em meio a estrondosa ganância de privilegiados funcionários de Estado. Entra para a história 2020 como o ano em que o Brasil matou o Brasil.
Luiz Gadelha

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