Bolsonaro e filhos, porém, reservaram temerariamente cargos importantes também para ideólogos orgânicos da extrema direita. Entre eles, o economista e professor Abraham Weintraub, o segundo ministro da Educação do governo, substituto de Ricardo Vélez, de perfil semelhante. Um sério erro. Weintraub tem se destacado pela absoluta incompreensão da importância do cargo. Dedica-se a travar a chamada “guerra cultural”, um tipo de briga de rua no mundo virtual.
Os erros crassos de ortografia de Weintraub são menos graves do que a sua incapacidade de administrar o MEC num momento em que o Brasil precisa acelerar projetos para impulsionar a educação, quando persiste grande evasão no ensino médio, existe um contingente preocupante de analfabetos funcionais, e os cuidados com a primeira infância, cruciais para uma boa formação, continuam sendo negligenciados.
Os problemas que se repetem no Enem foram enfrentados de forma canhestra, e restou um forte golpe na já debilitada confiabilidade no exame, a única porta de entrada de milhões de jovens para o ensino superior. Além de gerenciar o reparo do Enem, por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), ligado ao MEC, o ministro precisa cuidar da implementação do currículo único (a partir da Base Nacional Comum Curricular) e da reforma do ensino médio, aprovada no Congresso, e da qual nada se fala no MEC de Weintraub. E é preciso encaminhar proposta ao Congresso da renovação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), que vence este ano. É a única fonte de recursos para a grande maioria das secretarias de Educação de estados e municípios.
Especialistas dizem que o MEC tem de ser um polo de aglutinação técnica e política, para fazer um trabalho amplo e constante de estimulação junto a governadores e prefeitos, cujos secretários e professores são os responsáveis por melhorar o ensino em cada sala de aula. Este é um papel estratégico do MEC.
Weintraub não consegue exercê-lo. Não procura dialogar. É apenas um militante de causas extremadas. Não tem perfil para o cargo. Não pode transitar na Câmara dos Deputados, devido à compreensível repulsa do presidente da Casa, Rodrigo Maia, e não apenas deste: acaba de chegar ao STF pedido de impeachment do ministro encaminhado por deputados e senadores. Não transita no meio universitário, nem tem diálogo com a comunidade de especialistas no setor, está isolado no MEC, bajulado apenas pelo presidente Bolsonaro e filhos. Weintraub é só ministro dele mesmo. O MEC está à deriva, e a educação também.
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