terça-feira, 7 de janeiro de 2020

Governo condena terrorismo lá fora. Aqui dentro, silencia

Uma vez que se manifestou solidário com o governo americano "no combate ao terrorismo" depois que o presidente Donald Trump mandou matar o general iraniano Qassem Soleimani, é razoável imaginar que o governo brasileiro condenará também o ato de terrorismo contra a sede da produtora Porta dos Fundos, no Rio.

O carismático comandante das forças de segurança iranianas era considerado um herói no seu país. Contra ele, fora de lá, pesavam graves acusações de envolvimento com terrorismo. Soleimani foi assassinado por um drone quando deixava o aeroporto de Bagdá, no Iraque. Junto com ele morreram pelo menos mais seis pessoas.

Segundo Mike Pompeo, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Soleimani planejava ações que poderiam pôr em risco vidas americanas no Oriente Médio. Sua morte, afirmou Trump, não foi para “dar início a uma nova guerra”, mas para impedir a possibilidade de haver uma nova guerra na região.


O ato de terrorismo contra a produtora Porta dos Fundos não produziu vítimas. Cerca de cinco homens, de acordo com a polícia do Rio, arremessaram duas bombas caseiras incendiárias contra o imóvel. Um porteiro escapou sem ferimentos. Mas terrorismo é terrorismo onde quer que aconteça, produza ou não vítimas.

Um dos cinco homens, Eduardo Fauzi, ligado a milicianos e dono de folha policial com cerca de 20 registros de transgressões à lei, fugiu para a Rússia na véspera de ser preso. Uma vez lá, confessou ser um dos autores do atentado. E disse que só conseguiu fugir porque fora avisado com antecedência de sua prisão.

Para justificar o que fez, Fauzi alegou que os comediantes do Porta dos Fundos desrespeitaram a religião ao encenarem uma sátira insinuando que Jesus poderia ter tido uma experiência homossexual. Ninguém é obrigado a gostar de sátiras. Mas a ninguém é permitido o uso de bombas para protestar.

Desde a véspera do Natal, dia do atentado, o governo Bolsonaro mantém-se em silêncio. Guardaria silêncio se algo parecido tivesse acontecido às portas de uma igreja evangélica? Ou de uma sinagoga? Ou às portas de uma unidade militar? Onde se perdeu a promessa de Bolsonaro de governar sem viés ideológico?

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