Há concordância no silêncio do presidente. Se subisse no caixote das redes sociais para desautorizar o filho Zero Dois, Bolsonaro teria de realçar meia dúzia de virtudes da democracia. Mas ele já deu inúmeras demonstrações de apreço pela ditadura e pelos ditadores.
Há pragmatismo no silêncio de Bolsonaro. Com a popularidade em declínio, convém à sua imagem a desculpa verbalizada pelo filho de que "a transformação que o Brasil quer" não chega "na velocidade que almejamos", porque a roda da democracia está com defeito e os que sempre nos dominaram "continuam nos dominando de jeitos diferentes".
O que falta a Bolsonaro é perceber que há também no seu silêncio uma boa dose de estupidez. Ninguém imaginaria que, eleito, o capitão abandonaria do dia para a noite o hábito de virar a mesa para sentar-se em torno dela. Mas é preciso notar que há sobre a mesa três problemas: uma crise econômica, uma falência moral e uma sociedade estilhaçada. O flerte com a ruptura institucional, além de não fazer sucesso no Brasil de hoje, não trará de volta os empregos, não restaurará a moralidade e não pacificará o país. Alguma sensatez não faria mal a ninguém.
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