O PIB é, segundo economistas, uma importante medida que indica o quanto a economia pode estar acelerando ou se contraindo com base na soma de todos os bens e serviços produzidos num país.
A origem desse indicador remonta a década de 1930, quando o economista Simon Kuznets, em busca de saídas para a Grande Depressão nos EUA, acabou criando uma forma de medir a economia contabilizando tudo que é produzido em determinado país.
A forma de calculá-lo, contudo, tem variado e a conta final depende do que se coloca na equação. Muitos países, entre eles todos os 27 membros da União Europeia, passaram a incluir atividades ilícitas como tráfico de drogas e contrabando no cálculo do PIB o que, na prática, ajuda a economia a parecer maior.
É uma decisão considerada controversa por muitos economistas porque atividades ilícitas são difíceis de mensurar e representam gastos adicionais por parte do Estado com, por exemplo, segurança e saúde. Por outro lado, contabilizar atividades ilegais é capaz de turbinar um dos principais indicadores econômicos do mundo.
Em 2014, países como a Itália, Reino Unido e Espanha anunciaram que iriam passar a contabilizar tráfico de drogas, prostituição, contrabando de cigarros e bebidas. A decisão atendia a uma exigência da União Europeia para que todos os países do bloco incluíssem atividades ilícitas no cálculo do PIB.
"Este não é apenas um requisito europeu, mas internacional – tem sido coberto pela metodologia desde a edição de 1993 do Sistema de Contas Nacionais da ONU [Organização das Nações Unidas]", informou à BBC News Brasil o Eurostat, o Gabinete de Estatísticas da União Europeia, por meio da assessoria de imprensa.
À época, segundo a imprensa britânica, o Reino Unido avaliou que a ação de prostitutas e traficantes iria incrementar em 9,7 bilhões de libras (o equivalente a R$ 497 bi em valores atuais) – ou em 0,7% – o PIB de 2009, ano em que o país tentava se recuperar de uma das piores crises econômicas da história recente.
O efeito na Europa, como um todo, parece ter sido mais modesto. Apesar de afirmar que não mantém estimativas regulares da quantidade das atividades ilegais, o Gabinete de Estatísticas da UE diz que a projeção feita em 2014 foi de aumento que corresponde a 0,38% do PIB do bloco.
De acordo com o Eurostat, além da inclusão das atividades ilícitas, outras mudanças na forma do cálculo feitas em 2014 resultaram num aumento total de em 3,67% no PIB da União Europeia.
As previsões para 2019 não são muito otimistas para o Brasil. O mercado financeiro vem reduzindo as expectativas de crescimento da economia neste ano. Divulgado no dia 20 de maio pelo Banco Central, o boletim de mercado, conhecido como relatório Focus, mostra uma redução na estimativa de crescimento deste ano de 1,45% para 1,24%, com base em levantamento feito junto a 100 instituições financeiras. No começo do ano, a expectativa era de um crescimento de mais de 2,5% no ano.
O indicador que representa uma prévia do PIB (IBC-Br) aponta uma retração de 0,68% no primeiro trimestre do ano.
Nesse cenário, a inclusão do tráfico de drogas, jogos de azar e contrabando de bebidas e cigarros poderia, em tese, inflar o PIB. Economistas apontam, contudo, que a medida é controversa e que o ideal seria ter um cálculo separado para as atividades ilícitas.
"Grande parte dos países que adotarem essa medida terão como resultado um grande aumento do PIB, inclusive o Brasil", afirma a economista Marcelle Chauvet, professora da Universidade da California Riverside e especialista em ciclos econômicos, que defende mensurar e divulgar o PIB com e sem as atividades ilegais.
"É importante haver um esforço orquestrado para contabilizar atividades ilegais. Essas atividades chegam a um percentual muito grande na economia de alguns países", diz Chauvet. "Isso permitirá uma comparação histórica da evolução da economia de cada país, como também comparação entre países que adotam ou não a inclusão de atividades ilegais", completa.
O economista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Victor Gomes também acha "interessante" dimensionar esses mercados clandestinos, mas afirma que a inclusão no cálculo do PIB é uma questão complicada.
"Ter uma noção de qual é a produção, mesmo de coisas que a gente não goste ou não concorde, é sempre bom. Serviria inclusive como auxílio para várias políticas", justifica.
Quem calcula o PIB oficialmente no Brasil é o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que diz estar se esforçando para, além de encontrar um cálculo cada vez mais preciso, manter a comparabilidade internacional.
À BBC News Brasil, o IBGE informou que acompanha as discussões internacionais sobre contabilizar atividades ilegais ao medir o tamanho da economia. "Mas, por enquanto, não há projetos de incorporarmos essas atividades no cálculo do PIB", disse o órgão, por meio da assessoria de imprensa.
No Ministério da Economia, a atual forma de contabilizar o PIB parece agradar integrantes da pasta.
O secretário de política econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, diz que o PIB é importante para verificar se as políticas estão funcionando e afirma que, da forma como é calculado hoje, "está valendo".
"No plano teórico, eu entendo que o PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos em uma economia em um período de um ano. Essa é a definição básica. Por essa definição, devia entrar tudo no cálculo. Mas não tenho ideia, não vejo vantagem", afirmou Sachsida.
"No fundo, para que precisamos do PIB? O PIB é uma medida pra verificar se as políticas estão funcionando, se o país está caminhando na direção correta. É isso que precisamos, de um indicador. Eu não tenho esse preciosismo que alguns têm, não. Pra mim, do jeito que está, está valendo", disse Sachsida, ao ser questionado pela BBC News Brasil sobre o tema.
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