Para o estudo publicado nesta quarta-feira na revista especializada Science Advances, os pesquisadores analisaram os registros diários do nível do leito do Amazonas feitos no porto de Manaus há 113 anos.
Os dados mostram que enchentes acima de 29 metros, valor de referência para que as autoridades decretassem estado de emergência, ocorriam uma vez a cada 20 anos na primeira metade do século 20. Atualmente, esse tipo de inundação ocorre a cada quatro anos.
"O que realmente chama a atenção no histórico de registros é a gravidade e a frequência de inundações. Com poucas exceções, houve inundações extremas na bacia do Amazonas todos os anos entre 2009 e 2015", disse o autor da pesquisa Jonathan Barichivich, da Universidade Austral do Chile.
Segundo o estudo, o aumento das enchentes está relacionado a mudanças no sistema de circulação do ar movido pelo oceano, que influencia o clima e a quantidade de chuvas na região dos trópicos. Essa mudança foi causada pelo forte aquecimento do Oceano Atlântico e o resfriamento do Pacífico, o que aumentou a precipitação na bacia Amazônica.
"O efeito é mais ou menos o oposto do que acontece durante o El Niño. Ao invés de causar seca, resulta numa maior convecção e precipitação intensa nas regiões central e norte da bacia Amazônica", afirmou Manuel Gloor, da Escola de Geografia da Universidade de Leeds, no Reino Unido, coautor do estudo.
As causas do aquecimento do Atlântico não estão totalmente esclarecidas, porém, além da variabilidade natural, as mudanças climáticas influenciam esse fenômeno. Como resultado do aquecimento global, os cinturões de vento de média e alta latitudes no Hemisfério Sul têm se deslocado mais para o sul, o que abriu espaço para que as águas quentes do Oceano Índico sejam transportadas da ponta da África, através da corrente das Agulhas, para o Atlântico tropical.
Os cientistas indicam que as mudanças nos ciclos da água na bacia do Amazonas tiveram sérias consequências para os moradores de Brasil, Peru e outros países da região. O estudo aponta ainda que as inundações devem continuar ocorrendo nos próximos anos.
De acordo com o coautor do estudo Jochen Schöngart, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), as enchentes podem prejudicar o abastecimento de água, espalhar doenças, além de destruir casas e meios de subsistência.
O pesquisador destacou que com esses dados é possível aperfeiçoar os modelos de previsão de cheias na Amazônia Central e elaborar políticas públicas para mitigar os impactos das enchentes em regiões urbanas e rurais.
Deutsche Welle
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