domingo, 8 de outubro de 2017

O furacão conservador e outras tragédias artificiais

A natureza anda mesmo implacável com a gente.

Está decidida a nos varrer da face do planeta com seu espanador de catástrofes.

Nós, brasileiros, demos a sorte.

Estamos a salvo de erupções vulcânicas, raramente temos terremotos e não há registro de nevascas nos livros de História.

Em compensação, o que nos falta em tragédias naturais, compensamos criando tragédias artificiais.

Desastres criados pela mão do homem, sem nenhuma relação com as forças do meio-ambiente.


A primeira dessas tragédias é o Tsunami de Corrupção.

Uma onda de roubalheira que vai se formando aos poucos nos subterrâneos, nos quartos de hotel, nos porta-malas, nas repartições públicas do segundo escalão.

A marolinha, então, cresce até invadir o Congresso Nacional e as salas de estar do Executivo com uma força de dimensões inimagináveis.

No rastro do Tsunami de Corrupção vêm sempre crises econômicas, desemprego e destruição de sonhos e esperanças.

Tal qual o tsunami natural, que apaga ilhas inteiras e arranca árvores centenárias pela raiz como se fossem de brinquedo, o Tsunami de Corrupção arranca de seus tronos os empresários e políticos enraizados à gerações.

Afunda empresas que pareciam sólidas como rochas.

Outra tragédia artificial criada aqui em nossas terras é a Inundação de Incompetência.

Começa com uma garoa ininterrupta de equívocos e má fé.

O despreparo, a burocracia, o nepotismo e o corporativismo vão se acumulando até atingir um nível alarmante.

Um dia a barragem política não aguenta e rompe causando uma inundação de prejuízos e devastação sem precedentes.

A Inundação de Incompetência ocorre em áreas específicas do país, notadamente na saúde pública, saneamento e educação.

Tem mais: a virulenta Epidemia Evangélica.

Em sua variante não agressiva, a Epidemia Evangélica surgiu nas igrejas e cultos espalhados pelo país.

Em pouco tempo se propagou — com fúria bíblica — para as Assembléias. Legislativas.

A contaminação do Congresso Nacional foi instantânea.

Aí adeus.

A Epidemia Evangélica mandou para a UTI o Estado Laico.

E não existe cura conhecida.

Todas essas tragédias já seriam suficientes para nos apagar do mapa.

Mas o pior guardei para o final: o Furacão Conservador.

Tenho até medo de descrever.

Começa como uma brisa as vezes confundida com um refresco de ideias.

De uma hora para outra os ventos da mudança começam a girar no sentido anti-horário.

E quando nos damos conta, é tarde demais.

O olho do Furacão Conservador é a ignorância.

É de lá que emanam rajadas terríveis de nacionalismo, xenofobia, preconceito e até militarismo.
O Furacão Conservador não poupa ninguém.

Escolas, museus, minorias, movimentos sociais são todos arrancados de seus direitos mais fundamentais.

E olha só: não quero ser alarmista nem nada, mas estudiosos dizem que existe um terrível Furacão Conservador em formação.

Não garantem, mas à boca pequena dizem que vai atingir categoria 5 em outubro do ano que vem.

Espero que estejam errados senão, meu amigo, a gente vai implorar por um meteoro.

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