Discutiu-se o impeachment – e o Velhote do Penedo durante algum tempo foi contra o afastamento de Dilma. Meu raciocínio não era político nem ideológico: ela que afundasse nas tolices que fizera. Mas veio o impeachment: e a realidade das besteiras que Dilma fizera tornou-se evidente. 170 bilhões de déficit, 13 milhões de desempregados, 4,8 milhões de subempregados, 6,2 milhões fora do mercado de trabalho, desindustrialização, inflação, comércio em crise, inadimplência, aumento da miséria, obras paralisadas, corrupção, descrédito da política, naufrágio da esquerda. Imaginem se não houvesse impeachment e Dilma estivesse à frente, hoje, do governo.
Seguindo a ordem constitucional vigente, subiu Temer, que montou um ministério e sofreu, desde logo, um bombardeio violento, inclusive de gente que apoiara o impeachment e o naufrágio da esquerda. Achei estranho, mas fiquei na minha. Não gosto pessoal e politicamente do Temer, como não simpatizo com a maioria do seu ministério. Mas resolvi fazer o seguinte: tapar o nariz, pois o meu problema são os 24 milhões de desempregados, subempregados e desencantados. Enquanto estamos aqui debatendo este ou aquele nome da cúpula, este ou aquele pequeno escândalo, esta ou aquela notícia plantada por um ou outro petista ressentido, milhares de famílias estão passando necessidades – e isto me incomoda. Não sei se os meus amigos já passaram por isso: durante a ditadura, o SNI bloqueava o meu nome em todos os empregos que eu procurava – foram três anos em que sobrevivi de bicos, que mal davam para o sustento da minha família.
Sempre fui um sujeito de esquerda: comecei a militar na Polop com 19 anos, gramei durante a ditadura, mas nunca perdi a esperança. Ajudei a fundar o PDT. Quando Lula foi eleito, esperei o melhor, sinceramente. Logo vi que eu estava errado. Lula era, de fato, uma fraude, como depois vi que Dilma era nada mais que sua continuação.
Continuo sendo um sujeito que acredita no ideal socialista, mas desprezo a esquerda atual brasileira. Trata-se de uma esquerda atrasada, superada, que vive de jargões, de olho voltado para o passado: são pré-históricos. É uma esquerda que deseja confinar o povo na miséria com o intuito exclusivo de referendar a sua retórica falida e, pior ainda, insincera. A esquerda, no fundo, quer que a desigualdade permaneça como tal, pois supõe que a desigualdade social é o pasto da sua afirmação política.
Não estou fazendo um texto político: estou dando o meu testemunho, cevado este numa experiência de vida que – como dizia o Brizola – vem de longe.
Não me envergonho de dizer que apoio a PEC dos gastos, ora em discussão no Senado. E apoio por duas razões: porque ela não reduz os gastos com saúde e educação; porque impede que os parlamentares incluam despesas (as chamadas emendas parlamentares) e criem receitas fictícias, gerando déficits que só penalizam o povo. O Velhote leu cuidadosamente a PEC dos gastos, por isso se recusa a ouvir palpites dos que não leram entre os quais incluo intelectuais vadios e políticos jurássicos. E estudantes que não estudam, não sabem o que é socialismo e são guiados por partidos políticos derrotados pela sociedade. Mas isto é outra história.
Apoio a operação Lava Jato, a reforma do ensino médio (nossa educação está 40 anos atrasada se comparada à da Coreia do Sul), as medidas contra a corrupção – e, de quebra, a reformulação da esquerda, de modo a modernizá-la, atualizá-la, democratizá-la. O Brasil precisa ser passado a limpo.
Todos os dias, vejo que cascas de banana são postos no caminho do Temer. Não se pode esquecer que os 24 milhões de desempregados, subempregados e desencantados são produto espúrio da era petista – supostamente progressista, de esquerda e estatista. Temer, através do Meirelles, propôs uma saída (difícil, amarga) para a crise. Há alguns dias, a deputada Érica Kokai fez um discurso em que dizia que a saída da crise estava “em mais e mais Estados”. Uma lástima.
Em tempo: Chico Buarque proibiu o uso da música “Roda viva” como prefixo do programa homônimo, da TV Cultura. Motivo: a entrevista concedida pelo presidente Temer. Mais uma vez Chico Buarque mostrou que no fundo é favorável à censura – aos outros. Não bastando seu comportamento deplorável no episódio da censura à biografia de Roberto Carlos, de Paulo César de Araújo, Chico Buarque mostrou-se ser um sujeito mesquinho e rancoroso. Uma pena.
Nenhum comentário:
Postar um comentário