sábado, 10 de dezembro de 2016

A educação ladeira abaixo

O Brasil segue despencando no ranking mundial da educação. Não andamos de lado, andamos para trás. A cada rodada do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes – Pisa, exame realizado de três em três anos e de responsabilidade da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico- OCDE, somos empurrados mais para o fim da fila.

Isso aconteceu em 2012, quando a educação brasileira caiu cinco posições na área de ciências. Naquele ano o Brasil estava em 55º no ranking de leitura, 58º no de matemática e 59º no de ciências. No PISA de 2015, o país reincidiu, descendo mais degraus situando-se agora na humilhante 59ª posição em leitura, 65ª em matemática e 63ª em ciências, entre 70 países avaliados. O desastre maior é justamente em matemática: enquanto a média dos países da OCDE na disciplina é de 490 pontos, ficamos com 377. Em ciências, chegamos só a 401 (média é 493) e em leitura, 407 (média também 493).




E quando se pensa que chegamos ao fundo do poço, é bom lembrar de outros vexames tão grandes quanto: o Brasil está na rabeira do ranking do Fórum Econômico Mundial quando se leva em conta “a taxa de sobrevivência em educação básica” -- ou seja, a capacidade de o aluno sair desse ciclo bem preparado. Aí ficamos atrás da Bolívia e do Paraguai.

Os vexames se sucedem aos borbotões. Segundo o relatório final da UNESCO – órgão da ONU para a educação – o Brasil não cumpriu quatro das metas do compromisso Educação para Todos, firmado em 2000 por 165 países e com vigência até 2015. Falhamos nas metas de expansão do ensino na primeira infância, nas de que as necessidades de aprendizagem de todos os jovens sejam alcançadas por meio do acesso equitativo, na alfabetização de adultos e na qualidade da educação em termos gerais. Atendemos apenas os quesitos da universalização do ensino fundamental, uma conquista obtida com a implantação do Fundef ainda no governo FHC, e na garantia da equidade de gênero nas escolas.

Detalhe: na avaliação da UNESCO levamos um baile até de Cuba e ficamos atrás de países como México e Chile. Quando a avaliação foi divulgada, em abril de 2016, o governo de Dilma Rousseff preferiu dizer que o erro não estava na nossa educação, mas na avaliação da UNESCO.

Por que estamos tão mal assim?

Não há muito mistério. O Brasil paga um preço altíssimo por ser retardatário no campo educacional. Só na virada do século, mais precisamente na gestão do Paulo Renato Souza no Ministério da Educação, chegou-se à universalização do ensino fundamental. E só então passamos a contar com um sistema de avaliação do ensino.

A partir desse estágio, seriam previsíveis os passos seguintes, ações articuladas e não pontuais ou episódicas, ou seja: enfrentar os problemas do fracasso e da evasão escolar; dar prioridade absoluta à melhoria da qualidade do ensino básico; reformar e universalizar o ensino médio. E, para embasar tudo isso: focar na valorização e formação continuada dos professores, implantar de vez a meritocracia, enfrentar o corporativismo - essa força conservadora sempre resistente às mudanças.

Não foi o que se viu nos treze anos seguintes. Essa agenda foi deixada de lado e o país assistiu a uma sucessão de ministros da área, com prioridades distintas. Não raro, políticas erráticas.

O que o país está fazendo não está funcionando. E não podemos tentar enxergar nos resultados frestas que amenizem o tamanho do problema. É preciso ter indignação e seguir com a certeza de que toda criança é capaz de aprender. Não tem sentido reprovar um aluno por décimos, mas sim trabalhar no reforço e recuperação até que ele aprenda. Isso é uma tarefa exclusiva da escola e de seus professores.

É preciso rever as práticas na sala de aula, nas competências a serem aprendidas, estabelecer prioridade no português e na matemática, pensar em estratégias e em como o professor vai se conectar ao aluno no mundo atual. Não é uma tarefa fácil. E para vencer os desafios necessários muitos vão chiar. Vai ter choro e ranger dos dentes.

Na educação colhe-se o que se planta. Cingapura, Coréia e Hong Kong priorizaram o ensino básico, fizeram sua revolução educacional ainda no século vinte. Hoje ocupam os primeiros lugares nos exames internacionais.

Enquanto o Brasil esperneia diante de mudanças necessárias, como as encaminhadas pelo governo para o ensino médio, e come poeira lá atrás.

Nenhum comentário:

Postar um comentário