Uma dúvida óbvia: “Porque o Brasil na reunião da OPEP?” Elementar, meu caro. O Brasil é hoje um país exportador de petróleo. O Equador, membro da OPEP, exporta 500 mil barris por dia. O Brasil exporta 800 mil barris por dia (dados oficiais da ANP).
A posição que o Brasil adotou, nada diplomática, foi negar a importância da própria OPEP, discursando que o problema de mercado (preço) deve ser resolvida pelo mercado (empresas) e não há nada que deva ser feito, e que não iria reduzir a produção. Árabes chocados.
Além disso, a OPEP nunca se importou com a produção do Brasil, que ultrapassa há tempos 2 milhões de barris diários. Ela se importa com a exportação do petróleo do Brasil. E o que ela vê de fora é que o avanço da produção do pré-sal para mais de um milhão de barris por dia, com participação crescente das estrangeiras, transformou o Brasil em exportador de petróleo bruto e, como tal, um importante membro a ser angariado na organização.
A declaração do brasileiro, um balde de água fria nos árabes. Para eles, o Brasil não tem o que é necessário: vontade de regular a exportação de forma que o óleo se consuma internamente, excluindo mais uma parcela da abundância de óleo barato do mundo.
Como o índice de desenvolvimento humano dos países da OPEP não é dos mais exemplares, há uma tendência de desprezar seus conselhos, mas, olhando para o próprio umbigo, vê-se que o Brasil é um paradoxo.
O país conta com exportação em 800 mil barris por dia, dos quais 400 mil são de empresas estrangeiras parceiras da Petrobras no pré-sal. Os outros 400 mil a própria estatal exporta, por causa da irresponsável falta de refinarias no país, que obriga a Petrobras a importa 400 mil barris por dia em derivados (os números coincidem: voltamos à situação de 10 anos atrás, temos apenas a autossuficiência volumétrica – agora sem fogos de artifício).
As empresas instaladas no país exportam a um valor ridículo: 35 dólares o barril, quando o preço internacional é 50. Já os derivados, importamos a 65 dólares o barril. Isso significa que, se tivéssemos mais refinarias, teríamos 30 dólares por barril de valor agregado em cada barril, que tem mercado interno garantido, mesmo na crise atual.
O paradoxo é que nem empreendedores nem a Petrobras querem operar no refino. E ninguém vê problema nisso. O Brasil vai pagar, somente este ano, 5 bilhões de dólares para chineses refinarem o óleo. Mas outra refinaria aqui, jamais!
Voltando ao assunto, pode causar surpresa o baixo valor do óleo (pré-sal exportado pelas multinacionais “parceiras” da Petrobras). Mas não causa a menor surpresa, porque quem compra são subsidiarias estrangeiras das mesmas empresas e, surpresa menor ainda, quanto menor o valor do barril, menor o imposto arrecadado.
A Agência Nacional do Petróleo manifestou preocupação com a situação e promete que vai investigar. Mas é pizza na certa.
De concreto, o que se tem é que a conquista do pré-sal pela Petrobras é um fato consolidado pela produção de mais de 1 milhão de barris por dia e que todo óleo a que as multinacionais tiverem acesso será exportado cru, deixando de 10 a 30% de seu valor declarado em forma de imposto – algo como 3 a 12 dólares por barril.
Enquanto isso, se aguarda o planejamento energético de longo prazo do Brasil, que determinaria se o ideal para nosso progresso é produzir agora, com excedente vendido a preço de banana, ou restringir a exportação (como fizeram os EUA por 40 anos) e equilibrar a produção, refino e consumo.
Sem este planejamento, o governo se torna alvo fácil para ser chamado de entreguista com leilões sem objetivos com resultados pífios para a nação, tão necessitada em energia e emprego.
A Operação Lava Jato mostra apenas a ponta do iceberg da Petrobras. O escândalo no setor do petróleo é muito mais grave do que se pensa. Mas quem se interessa?
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