Torcedores com faixas e camisetas “Fora, Temer” foram retirados dos estádios por policiais ou ameaçados de prisão por agentes com uniformes camuflados da Força Nacional de Segurança, caso não enrolassem as faixas ou mudassem de camisa. Gritos de “abaixo a ditadura” e “fora, censura” agitaram vídeos nas redes sociais. Ironicamente, a base para a repressão era uma lei sancionada por Dilma Rousseff em 2014, no ano da Copa, e referendada em maio deste ano para a Olimpíada, pouco antes de ela ser afastada.
Só a intolerância, ou a burrice, ou ambas explicam que alguém possa considerar ofensivo um cartaz “Fora, Temer”, ou “Tchau, Dilma”, ou “Adeus, Lula”. Bandeira racista, machista ou xenófoba é claramente um crime contra os direitos humanos e deve ser reprimida. Mas por que raios censurar a manifestação pacífica de um desejo político? Desde quando a paz é ameaçada por algum desses cartazes? Só acho estranho não ter visto nenhuma faixa “Volta, Dilma”. Onde estão os dilmistas? Cadê os que torcem pela volta de Dilma ao Poder?
Parece errado o Comitê Olímpico Internacional ir contra a Constituição de 1988, que diz ser “livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”. Onde está o espírito olímpico, minha gente? O COI se explica. Diz que a regra 50 da Carta Olímpica “tem como objetivo separar esporte de política, honrar o contexto dos Jogos Olímpicos e garantir a reunião pacífica de atletas, dirigentes e espectadores de diferentes culturas, crenças e origens”. Mario Andrada, diretor de comunicação da Rio 2016, explicou o veto aos cartazes. “Queremos arenas limpas.” Mas vaias e gritos políticos estão permitidos. Senão, “metade do Maracanã teria sido esvaziado”.
Não foram só as vaias a Temer na abertura. Mas os urros contra atletas adversários. Tem gente que detesta o exorcismo explícito do torcedor brasileiro. Quem adora são os atletas empurrados pelo amor transbordante e pelos aplausos, a outra face da moeda. Eles se jogam nos braços da torcida, dizem que “nunca viram nada parecido”. A plateia às vezes adota como seu um atleta ou uma equipe de outro país. Nunca da Argentina. Estamos fazendo escola: algumas torcidas estrangeiras, mais frias e educadas, passaram a urrar também, para não ficar para trás no amor a seus atletas.
Não durou muito a repressão oficial às faixas políticas. Um juiz federal, João Augusto Carneiro Araújo, gastou 23 minutos para conceder liminar pedida por uma procuradora da República. E proibiu a proibição à “manifestação pacífica de cunho político” com uso de cartazes, camisetas “e outros meios lícitos nos locais oficiais” da Olimpíada. Quem reprimir pagará multa de R$ 10 mil. O COI prometeu recorrer. Mas melhor cair em si e esquecer o assunto.
Entendo que a finalidade da Olimpíada seja outra. Com o “liberou geral”, há o risco de poluir os estádios e incomodar quem só está a fim de torcer por atletas e medalhas. Em seu perfil no Facebook, o jornalista Rogério Simões postou um comentário que assino embaixo: “Agora vai ter faixa contra o Temer, contra a Dilma, contra o Lula, a favor do Lula, contra o Trump, a favor do Bolsonaro, contra o aquecimento global, contra o aborto, a favor de alguma PEC, contra outra PEC, a favor da pena de morte, contra o doping, a favor da Anitta, contra o Luciano Huck, a favor da bomba atômica, a favor da globalização, contra a globalização, a favor do sertanejo universitário, contra o rock, a favor do heavy metal, a favor das drogas, a favor dos jogos de azar, contra a maconha, a favor de Jesus, contra Jesus, a favor do queijo com goiabada, contra a pizza com ketchup, e todo mundo vai ficar feliz. Mas e a disputa do ouro? Já foi? Putz, perdi...”.
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