sábado, 12 de março de 2016

Termômetro, serpentes, homilias e ruas do domingo 13

Paixão
"Deus me imunize do teu veneno. Deus me poupe do teu fim"
("Reza", Rita Lee e Roberto de Carvalho)



Escrevo na antevéspera das grandes manifestações convocadas, há mais de um mês, em todas as regiões do Brasil. À frente da convocação, grupos de tendências variadas que atuam, fortemente, nas redes sociais e setores políticos e partidários de oposição ao governo petista de Dilma Rousseff, que estimam: "Se tudo sair nos conformes", como dizem os soteropolitanos , haverá expressivos e memoráveis protestos em cidades como São Paulo, Brasília, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador (entre outras) neste domingo, 13 de março, da Quaresma de 2016.

Tempo propício, portanto, para meditações sobre o ambiente de ameaças, boataria, estímulos ao confronto e de provocação escancarada em alguns casos. Caldo de cultura da violência, intranqüilidade e medo, que começou a se formar e a ser incentivado de uns dias para cá.

Principalmente, por grupos sindicais e "tropas de sem terra do comandante Stédile" (a definição é do ex-presidente da República, Luís Inácio Lula da Silva) ao lado de vozes estressadas de entidades dos chamados movimentos sociais – ligadas diretamente ao PT ou linhas auxiliares do partido, há mais de 13 anos no governo e com projeto de poder almejado por tempo indeterminado, aparentemente. Apêndices que começaram a propagar, também para a mesma data,a realização de atos em contraponto ao do movimento pelo impeachment da presidente Dilma.

Em sua edição para o Brasil, da sexta-feira (11), o diário espanhol El País define o ambiente com extrema precisão e competência jornalística, na metáfora de abertura do texto da reportagem sobre o pedido de prisão preventiva de Lula, pelos três promotores do Ministério Público de São Paulo.

"A temperatura política e social no país já estava alta. Mas, nesta quinta-feira (10), três promotores do Ministério Público de São Paulo ajudaram a explodir de vez o termômetro", diz o relato creditado a três profissionais do El País na capital paulista e em Brasília: Gil Alessi, Marina Rossi e Afonso Benites. "Cássio Conserino, José Carlos Blat e Fernando Henrique Araújo são os responsáveis por denunciar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos crimes de falsidade ideológica e estelionato, ambos relacionados ao triplex do Edifício Solaris, no Guarujá. Mas o trio foi além, e pediu, à juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga Oliveira, a prisão preventiva do petista – a magistrada ainda não se posicionou sobre o caso", completam os jornalistas, na primorosa abertura do texto.

Seja como for, tentar confrontar os protestos, marcados com grande antecedência, ou tentar barrar as manifestações populares nas ruas, com arruaças e ameaças de última hora, aparenta tratar-se de receita política aloprada e evidentemente perigosa. Com, praticamente, todos os ingredientes para dar errado, se levada adiante.

"E solar o bolo do jejum da Quaresma", como diziam sábias tias e hábeis doceiras, em Santo Antonio da Glória, a querida cidade de meus melhores anos de infância, na beira do São Francisco. O rio da minha aldeia que, agonizante e sangrando por todas as suas veias, vai virar tema da novela das 9h, da Globo, igualmente anunciada para começar neste março de um tempo temerário no Brasil.

Recordo, por fim, dos meus plantões de fim de semana no Jornal do Brasil, cuja redação da sucursal na Bahia eu chefiava, em Salvador, nos anos loucos de 70 e 80. Aos domingos, em períodos de graves confrontos ideológicos e de princípios (que não podem ser comparados com defesa de governos corruptos, políticos, dirigentes, entes públicos e privados em conluio para saquear patrimônios sagrados da sociedade, a exemplo da Petrobras), em horas de confusões políticas e sociais, do porte da atual, sabia haver espaço quase garantido, no JB, para matérias com informações e palavras reflexivas de equilíbrio, sapiência e moderação, mesmo nas ocasiões de maiores tumultos. Na Bahia, a voz principal era a do estão arcebispo de Salvador e Cardeal Primaz do Brasil, D. Av elar Brandão Vilela, Bem informado e com o feeling da notícia, bastava um simples telefonema que o cardeal atendia com proverbial gentileza . O restante era tarefa do repórter..

Na conversa de um tempo sem redes sociais, ele dava a moldura factual para o texto de suas homilias dominicais, publicadas no jornal A Tarde. Em geral sobre o tema mais candente e polêmico da semana. Que seria transformado em texto jornalístico para a edição da segunda-feira do JB . Nesta antevéspera dos protestos, pelo impeachment da presidente Dilma e contra a corrupção no Brasil, confesso que sinto falta do antigo Primaz.

Às ruas, então. É bom não só gritar, mas também ouvir, atentamente, as vozes que virão delas neste domingo. Das ruas devem vir os ensinamentos e a luz para os próximos e indispensáveis passos de redenção do país.

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