quarta-feira, 23 de março de 2016

O que espero que aconteça no Brasil

Há uma passagem na peça grega “Os Persas”, de Ésquilo, que visita meu pensamento diante de tudo que o país vive nestes dias.

Atossa, mãe de Xerxes e viúva de Dario, recebe a notícia da derrota do grande e poderoso exército persa diante dos gregos na batalha de Salamina. Atordoada com a derrota, a rainha pergunta quem é o rei daquele povo vencedor. E recebe a resposta: “Os gregos não são escravos nem súditos de ninguém”.

Quisera eu, neste instante, que isso também fosse verdade para nós, brasileiros, diante de Dilma Rousseff, Lula, Fernando Henrique Cardoso ou Sérgio Moro. Que também nós pudéssemos ser dignos da democracia – não essa que camufla a existência de mandantes e mandados, de donos do poder e de miseráveis que lutam pelo dia a dia.

Quisera eu que todos pudéssemos obedecer apenas a nossa consciência e que, humildemente, reconhecêssemos que algo precisa ser feito para recuperar nossa dignidade, nossa honra, nosso desejo (justíssimo) de viver nossas vidas e de podermos ser todos felizes.

É a segunda vez que vivo um momento de divisão irreconciliável entre brasileiros. Vivi o fatídico 1964. Como tantos de minha idade, passei talvez o melhor tempo de minha vida sob uma ditadura civil e militar. A ditadura, insisto, não era só militar! Não quero isso mais.
Mas também não quero o ódio entre os que se julgam donos da verdade e os que querem impor “sua verdade” a todos os demais.

Assistindo à sessão do Senado na última sexta-feira, ouvi a senadora Vanessa Graziotin dizer que os derrotados na eleição em 2014 impedem que a presidente Dilma governe o Brasil. Isso não corresponde aos fatos. Na campanha presidencial, a candidata do PT apresentou um programa e passou a implementar outro depois de eleita. Ela desqualificava os adversários. Agora, num gesto que considero provocador, nomeia seu antecessor como ministro da Casa Civil e ainda propõe que o chefe de seu gabinete pessoal tenha status de ministro de Estado. O que ela quer com isso?! Talvez pensar que no Supremo os mais altos magistrados do Poder Judiciário vão esquecer falcatruas que tantos cometeram? Quer governar como senhora e dona do destino de todos os brasileiros? Querem também atirar o juiz Sérgio Moro na vala comum de delinquente? Querem torná-lo herói de metade do país, dividido de cima a baixo, onde ninguém reconhece o direito do outro em “pensar de maneira diferente”? Por que o ministro Gilmar Mendes age de forma a humilhar o ex-presidente da República? Seria Lula pior que qualquer um?

Não quero que ninguém seja súdito de outrem nem quero que pessoa alguma seja dono de alguém. Não temos rei nem reconhecemos a existência de quem se quer ver acima do comum dos mortais, mesmo sabendo – como sei e escrevo sempre – que não há lei igual para todos no nosso país, porque não somos iguais. Temos de nos perguntar: qual sistema constitucional mais justo pode ser aplicado efetivamente a todos? Querem atirar a primeira pedra em alguém. Mas quem conseguiu se ver livre dos erros que cometeu?!

Nenhum comentário:

Postar um comentário