quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

'Que horas são, senhor? São hora de ser honesto'

No artigo da semana passada, fiz referência às debochadas denominações “coxinha” e “petralha”, que seriam os novos representantes da direita e da esquerda – uma invenção de mau gosto e alimentada pelo ódio. No último sábado, li, dois dias depois, no jornal “O Globo”, a crônica do jornalista Arnaldo Bloch “Coxinhas & Petralhas”.

“Tive uma ideia – disse o cronista – para uma nova banda de rock. Não copiem, pois ainda não a registrei. Vai se chamar Coxinhas & Petralhas. O nome já diz ao que veio: veio para representar o Brasil bipolar de hoje”. E continua o cronista a sua justa diatribe: “Uma banda singular, que une a burrice de um lado com a burrice do outro. Pois, hoje, ou o brasileiro é um petista ladrão stalinista devorador de inocentes criancinhas, ou é um fascista fardado com um tucano tatuado na testa, assassino dos humildes trabalhadores. Alguém vai negar?”.

Por mim, não vou negar. É exatamente isso que às vezes me leva a uma crise de mau humor, quase sempre dominada antes mesmo de se iniciar. Sou um craque, modéstia à parte, ao esconder, sobretudo por meio do silêncio, essa doença que não mata o portador, mas amarga ou destrói a vida dos que lhe são mais próximos.

Vale a pena ler a crônica de Arnaldo Bloch. Para estimulá-lo ainda mais, vai aqui, leitor, outro trechinho, por sinal uma sugestão de fato maldosa. Escreve o cronista: “Já se fala até num novo tipo, um compósito, um híbrido, nascido dessa experiência: o coxalha, um ser que, aliás, é coxo, puxa uma perna, mas jamais se atrapalha”.

É claro que o país não sairá desse imbróglio ou dessa bipolaridade a que se refere o cronista se nós, brasileiros, continuarmos a aceitar esse jogo tramado pelos nossos representantes, cujo objetivo único é a conquista do poder pelo poder. Para eles, o povo é um detalhe.

A esperança de um verdadeiro renascimento não pode estar, por outro lado, na carta assinada por alguns advogados – muitos deles impedidos, pois estão comprometidos com a defesa de vários dos seus réus – condenando as investigações da operação Lava Jato. Sonham defender os seus clientes pressionando o Judiciário pela opinião pública, não por meio de provas e recursos nos próprios autos.

Antes que este espaço se esgote, esclareço o que também disse no último artigo, quando me referi ao relançamento do livro “Mein Kampf”, de Adolf Hitler, na Alemanha e no mundo. Jamais me passou pela cabeça a abjeta palavra “censura”. Não vou adquiri-lo, pois conheço suficientemente o seu autor: um psicopata. Falei por mim, pelo velho teimoso que insisto em carregar. Mas não nego que ele será extremamente útil, principalmente às gerações mais jovens, que precisam conhecer o real tamanho desse monstro humano. Luiz Fernando Emediato, responsável pela edição que sairá em março no Brasil, em entrevista ao “Magazine”, de O TEMPO, disse muito bem: “Conhecer o livro dele (de Hitler) nos ajuda a criar os antídotos contra quem nos engana na política, na religião, na propaganda e nos negócios”.

Enfim, o título acima: “Que horas são, senhor? São horas de ser honesto”. Trata-se de um diálogo entre personagens de William Shakespeare (23.4.1564-23.4.1616), durante um encontro casual em uma rua qualquer. A pergunta é inocente, nada revela, mas a resposta – uma metáfora que diz tudo – está repleta de lições de moral e ética.

Quando chegará a hora, leitor, da honestidade neste país? Certamente não a alcançarei, mas me conforta aspirar por ela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário