Herman Jean Joseph Richir |
Uma leitora, depois de ter assistido a um programa de moda em canal de TV paga, gentilmente me pediu para comentar o uso de peles de animais no vestuário feminino. Seria apenas uma escolha cruel, não fosse absolutamente inútil e de gosto duvidoso. Existem tecidos das mais variadas texturas para aquecer o corpo em época de frio, sem recorrer a chinchilas, focas, leopardos, raposas, linces, castores canadenses e carneiros persas que poderiam viver suas vidas na natureza, ambiente que Deus lhes reservou.
Ensinou Pitágoras, o primeiro dos grandes filósofos: “O luxo mais simples é o mais excelente”, e ainda: “Procure ser elegante e puro sem excitar a inveja e sentimentos subalternos”.
Uma pessoa dotada de certa sensibilidade não carregará em seus ombros ou em contato com seu corpo a pele de um ser suprimido com violência. Por mais colorida e tratada que seja, poderá estar carregando o espanto da morte, do sacrifício desnecessário, da incredulidade do animal vitimado pela ganância de alguns e para satisfazer a vaidade fútil e efêmera de uma mulher.
Justificar-se-ia para um esquimó – como meio de sobreviver entre gelos eternos – suprimir uma foca, mas nunca para uma mulher que pretenda realçar sua beleza física (ou, mais frequentemente, para encobrir a carência de atributos).
Segundo o alquimista, o mediador plástico, aquela força sutil que molda as aparências – influenciado de vontades e desejos, de práticas e contatos –, traduz nas formas o bem, o mal, a grandeza e a pequenez do indivíduo. Não há nada debaixo do sol sem consequências, o que se faz se paga. Dessa forma, não se escapa ao processo constante de causa e efeito, que reserva a cada um o justo mérito e o inexorável castigo.
A indigência moral produz feiura física. O mediador plástico provoca no ser humano a dilatação do ventre do guloso e lhe acentua as mandíbulas, afia os lábios do avarento, torna impudente o olhar da mulher impura, e venenosa a expressão do invejoso.
A natureza que frequentamos, os animais de que nos nutrimos, o ar que respiramos, o material que vestimos transmitem sua semelhança. Transfere seus fluidos. São eles os elementos da alquimia que modificam nossa exterioridade. Tire a vida de animais, ainda mais para ser fazer mais bonita, e terá o contrário do desejado.
Os sentimentos egoístas, e neles vão todos que estimulam a matança de inocentes, são danosos à beleza mais que os radicais livres, que as toxinas, que as gorduras saturadas. Apagam-se o brilho do olhar, a maciez da pele e os reflexos dos cabelos. O charme se exala e deixa lugar à feiura mascarada.
A beleza é um empréstimo que a natureza faz à virtude, ensinou o abade. Perdida a virtude, não há como se conservar a beleza.
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