sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Uns acreditam. Outros levam algum

zzafoto definitiva

Definitivamente, não são os números que importam mais.

Logo depois das manifestações de Fora Dilma, Fora PT, Lula na cadeia do domingo, e nos jornais do dia seguinte, falou-se muito de números. Ah, teve mais gente do que no dia 12/4 mas muito menos gente do que em 15/3!

Esgrimiram-se números das PMs, dos organizadores, do Datafolha – esse belo instituto de pesquisa de opinião pública que perde credibilidade quando conta no mesmo espaço da mesma Avenida Paulista 2,5 milhões de evangélicos ou gay e simpatizantes e, em ato político, parcas, miúdas, inofensivas, solitárias 135 mil pessoinhas.

O Datafolha divulgou agora, final da noite da quinta-feira, que contou 37 mil manifestantes pró-Dilma/contra a política econômica de Dilma.

A PM havia contado 40 mil. Uma conta próxima à do Datafolha.

Esquisito, porque, na hora de contar quem é Fora Dilma, Fora PT, Lula na cadeia, o Datafolha se distancia pra cacete da PM. No domingo, a PM avaliou a multidão em 350 mil; o pessoal da Datafolha mostrou carteirinha de estudante, pagou meia e chegou ao número 135 mil.

Então, em São Paulo, no domingo, foram – segundo o sacrossanto Datafolha – 135 mil pelo Fora Dilma, Fora PT, Lula na cadeia. E, nesta quinta, foram 37 mil pró-Dilma/contra a política econômica de Dilma.

Bem, a rigor, como é uma coisa esquizofrênica, contra e a favor, cada cabeça com duas sentenças, o Datafolha deveria ter contado 74 mil cabeças na manifestação pró-Dilma/contra a política econômica de Dilma.

Ou 80 mil, segundo a PM.

Mas, definitivamente, não são os números que importam.

***

Importa mais é o gesto. O símbolo. A qualidade.

Basta olhar para qualquer foto de manifestação contra. E comparar com as fotos das manifestação a favor/meio contra.

O repórter fotográfico Daniel Teixeira, do Estadão, fez uma foto que exprime exatamente o que eu quis dizer quando escrevi sobre a diferença entre as manifestações do Fora Dilma Fora PT e as manifestações chapa-branca.

As nossas são desorganizadas. Cada pessoa veste um tipo de roupa, leva seu próprio cartaz feito à mão. É tudo espontâneo – cada um está ali porque quer estar, quer expressar seu nojo por tudo isso que o lulo-petismo pôs aí.

As deles são organizadíssimas. Marciais. Os cartazes são os mesmos, encomendados na gráfica, paga com dinheiro de todos os trabalhadores do país, em benefício de um grupelho que se estabeleceu no poder.

Os lulo-petistas adoram usar imagens bélicas: vamos pôr nossos exércitos nas ruas, vamos de armas nas mãos.

Pois bem. Foi como eu senti, ao voltar para casa depois de andar pra lá e pra cá na Paulista durante um bom tempo, usando minha voz um tanto poderosa para berrar alto algumas certezas básicas, Fora Dilma, Fora PT: as manifestações fazem lembrar demais a batalha do filme Spartacus, obra-prima espetacular do então jovem (mas já gênio) Stanley Kubrick.

De um lado, estavam os ex-escravos que fugiram do cativeiro e se uniram para lutar pela liberdade. Eram absolutamente desorganizados, cada um se vestia de um jeito, tinha um tipo de arma.

Do outro lado, as centúrias romanas comandadas pelo cônsul Crasso. Impecáveis em seus uniformes limpíssimos, lustrosos.

Eles, os das bandeiras vermelhas, são o exército da Roma Imperial comandados por Crasso. Nós somos que nem as hordas chefiadas por Spartacus, que queriam se libertar do jugo do poder romano.

***

O que eu senti, e tentei descrever em texto escrito ainda sob o calor da emoção de ter estado na Paulista entre milhares de pessoas do bem que gritavam por um país melhor, está sintetizado na foto do colega Daniel Teixeira.

Definitivamente, nós somos o povo oprimido, tomado de assalto, ludibriado, enganado. Eles são a Guarda Pretoriana que defendem os encastelados no poder.

Sempre mais acurada, mais incisiva do que, Mary partiu das mesmas coisas que observamos nos últimos dias para chegar a uma conclusão que demonstra perfeitamente essa minha certeza de que os números não são o que mais importam – quaisquer que sejam eles.

Ela sintetizou com brilho o que de fato importa:

“Mais do que no tamanho e na capilaridade de uma e de outra, a maior diferença está naqueles que têm crença e apostam que podem fazer a História e nos que se deixam manipular pelos que se arvoram a ser – e acham que são – os únicos capazes de fazer a História.”

Nenhum comentário:

Postar um comentário