quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Uma ferida na esperança


O Brasil deveria estar alarmado com uma notícia do Tribunal Superior Eleitoral: só um de cada quatro jovens entre 16 e 17 anos com direito a voto nas próximas eleições se preocupou este ano em tirar o título eleitoral, o que pressupõe um desinteresse que beira o desprezo pela política.

O fato é duplamente grave, porque esses jovens não sofreram as garras da ditadura, da falta de liberdade, da miséria e da ausência de oportunidades, nem conheceram o horror das guerras. Seria demasiado fácil, no entanto, criticar esses meninos por sua falta de “sensibilidade política”, como escreveu um deputado federal. A crítica deve ser feita ao atual sistema político, que toda manhã espalha por todo o país montanhas de notícias sobre corrupção, violações à liberdade, feios exemplos éticos de quem deveria ser guia e mestre dos jovens em uma sociedade que se vangloria de ser democrática e liberal.

Uma das primeiras coisas que leio todo dia nos jornais são as cartas dos leitores, geralmente sérias, agudas, sóbrias, atuais e bem escritas. Na manhã de 10 de agosto, domingo, interrompi a redação desta coluna para dar uma olhada no jornal O Globo, que chega à minha porta às cinco e meia da manhã.


Entre as cartas dos leitores, impressionou-me a de Paulo Henrique Coimbra de Oliveira, do Rio. Não o conheço, mas sua carta intitulada “Desesperança” me confirmou o que tinha começado a escrever aqui. Diz Coimbra que, nos últimos dez anos, ele colecionou em um armário de quatro metros quadrados recortes de jornais que ilustravam escândalos políticos distribuídos pelos três poderes do Estado. Fez alguns cálculos: cinco escândalos por dia e uma corrupção que, segundo ele, é “superior ao PIB da maioria dos países do G-7”. Sua última frase é dura e obriga a refletir: “Depois não sabem (os políticos)”, escreve, “porque a sociedade não acredita neles. Dias atrás resolvi queimar tudo, inclusive o armário. E minha esperança de dias melhores foi queimada junto com ele”.

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