O Brasil deveria
estar alarmado com uma notícia do Tribunal Superior Eleitoral: só um de cada
quatro jovens entre 16 e 17 anos com direito a voto nas próximas eleições se
preocupou este ano em tirar o título eleitoral, o que pressupõe um desinteresse
que beira o desprezo pela política.
O fato é
duplamente grave, porque esses jovens não sofreram as garras da ditadura, da
falta de liberdade, da miséria e da ausência de oportunidades, nem conheceram o
horror das guerras. Seria demasiado fácil, no entanto, criticar esses meninos
por sua falta de “sensibilidade política”, como escreveu um deputado federal. A
crítica deve ser feita ao atual sistema político, que toda manhã espalha por todo
o país montanhas de notícias sobre corrupção, violações à liberdade, feios
exemplos éticos de quem deveria ser guia e mestre dos jovens em uma sociedade
que se vangloria de ser democrática e liberal.
Uma das primeiras
coisas que leio todo dia nos jornais são as cartas dos leitores, geralmente
sérias, agudas, sóbrias, atuais e bem escritas. Na manhã de 10 de agosto,
domingo, interrompi a redação desta coluna para dar uma olhada no jornal O
Globo, que chega à minha porta às cinco e meia da manhã.
Entre as cartas
dos leitores, impressionou-me a de Paulo Henrique Coimbra de Oliveira, do Rio.
Não o conheço, mas sua carta intitulada “Desesperança” me confirmou o que tinha
começado a escrever aqui. Diz Coimbra que, nos últimos dez anos, ele colecionou
em um armário de quatro metros quadrados recortes de jornais que ilustravam
escândalos políticos distribuídos pelos três poderes do Estado. Fez alguns
cálculos: cinco escândalos por dia e uma corrupção que, segundo ele, é
“superior ao PIB da maioria dos países do G-7”. Sua última frase é dura e
obriga a refletir: “Depois não sabem (os políticos)”, escreve, “porque a
sociedade não acredita neles. Dias atrás resolvi queimar tudo, inclusive o
armário. E minha esperança de dias melhores foi queimada junto com ele”.
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